O expurgo


De dia e de noite...
Recebia muitos açoites
Deitava-se Não achava sono
E algo vivia me atormentando...

Sabe!... aí estive pensando...
Eu mesmo fui me interrogando
Comecei a fazer depoimento...
Conversando com meu pensamento

Então eu concluí...
Que devido a quantidade de mercadorias que adquiri
O celeiro encheu...
E com seu peso a carcaça humana cedeu...

Foi aí que decidi fazer uma limpeza na tulha
Poderia demorar um pouco, pois no momento eu só dispunha de uma cuia...
E a cada cuia de mercadoria que eu tirava
A dor do peso abrandava

A consciência que tanto me acusava
A cada cuia que eu tirava, a dor na alma amenizava
Depois de muito trabalho
Percebi quanto o homem é falho

No início eu armazenei paz, conforto, perdão...
Justiça, equidade, amor, submissão...
Mas o celeiro encheu logo, pois em cima das virtudes fui ajuntando defeitos...
Então teria que fazer a limpeza de qualquer jeito

Quando tirei a ira, a inveja, a soberba a maledicência...
A incredulidade, a leviandade, a indecência...
Também um pouco da vaidade, da grandeza e da impaciência...
Sobraram as virtudes!... Que alegria, que benção!...

A partir daí reduzi o meu celeiro
Tirei o coração do dinheiro
Abracei os pobres do mundo inteiro
Hoje minha tulha é perfumada, mas antes, de longe se percebia o mau cheiro...


Valeriano Luiz da Silva
Anápolis - GO - 20/09/2004



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