Gira-Sol
 


O Pôr do Sol penetra fundo, quando encontra um mundo vazio, um deserto em nossa vida.

Ele chega e marca espaço, toma conta do pedaço.

Isso aconteceu com Thaeni.

O clarão amarelo avermelhado do Astro Rei contagiou a sua vida deixando-a deslumbrada, apaixonada.

Apesar de viverem em mundos diferentes, ela e o sol, algo extraor-dinário aconteceu entre eles.

Esse se sentiu orgulhoso de ser amado por aquela ninfa.

Ela era tão meiga e bela, afinal... e sob o seu resplendor, se torna-va radiante.

Ele, ora dava uma de misterioso deixando-a sempre em dúvida com relação aos seus sentimentos, ora reanimava-a, quando percebia que ela estava a se distanciar.

Nesse momento expunha todo o seu encanto envolvendo-a mais uma vez.

O sol era extremamente ambivalente.

Algumas vezes o seu amor era intenso, mais que de repente, volta-va a ser esquivo, desinteressado, inseguro, medroso como uma cri-ança, sozinha no meio de uma tempestade.

Mas ela imaginava (
atendendo ao seu desejo de ser amada) que se ele estava  em sua vida certamente nutria algum sentimento por ela, sentimento esse que um dia poderia se transformar em  amor.

Fazia castelos no ar, sonhava com outros mundos, talvez até ina-tingíveis.

Precisava desses mecanismos de defesa para sustentar o seu sonho.

Perdida nos seus sonhos imensuráveis, vivia Thaeni.

O seu amado era um solitário por excelência – um ser do mundo es-pacial – nada tinha a ver com ela, não se culpava por amar arden-temente aquela figura que ela interiorizara e que fizera morado no seu coração.

Afinal, sentimento não se explica se vive, vem mesmo sem ser cha-mado e nos  invade o ser.

Se possível seguiria todos os seus passos, o acompanharia em seus movimentos oriente/ocidente, dia a dia para não perde-lo de vis-ta, vivendo só o dia sem se deparar com a noite onde ele se oculta dando lugar a Rainha da Noite.

Mesmo sendo uma utopia, seu pensamento estava fixado no des-lumbramento daquela luz intensa.

Assim, passaram-se longos anos de envolvimento, onde a fantasia tomara um lugar de destaque substituindo o princípio de realidade.

Porém um dia ela decidiu mudar deixando seu mundo fantasístico.

Passou a pensar em outras possibilidades para a sua vida.

Precisava de alguém real que correspondesse o seu amor.

Procurou novas amizades, novos encontros que tivessem a suavida-de da lua.

Uma noite, sob o claridade enigmática do luar, conheceu um jo-vem muito calmo, que caminhava lentamente no ritmo suave do luar.

Era tão misterioso que ora mostrava a cara, às vezes escondia-se entre as nuvens da vida.

Era um andarilho noturno muito parecido com a Rainha da Noite.

E na paz da sua companhia, Thaeni resolveu fixar o olhar na sua di-reção a ponto de poder desviar o interesse do Astro Rei.

O Sol foi se distanciando do seu ponto de concentração, foi ficando no passado.

Guardava apenas a sensação das emoções vividas, as lembranças que às vezes se faziam presentes em forma de saudade daquele ser idealizado.

Ele sentindo-se abandonado ficou muito triste.

Triste por não ter sido capaz de proporcionar a sua ninfa nenhum momento de amor.

Para não ser varrido totalmente da sua vida ele a presenteou com uma pequena semente.

Na embalagem do presente havia um cartão com os seguintes dize-res: 
Para que jamais me esqueça plante esta pequena semente.

Ela brotará e produzirá uma flor que sempre estará voltada para mim do meu nascer ao desaparecer no horizonte.

Ela fará o que você fez, olhando por longos anos em minha dire-ção.

Jamais me perderá de vista.

Assim nasceu a flor que se curva sempre na direção do sol, desde o nascer até o seu desaparecer no horizonte infinito.

Por girar nessa direção, recebeu o nome de GIRASSOL.

Enquanto o sol existir, essa flor o acompanhara com o olhar amoro-so e apaixonado.

Viverá para embelezar o mundo no encanto do seu amarelo meio flor meio sol.

Ninita Lucena


 

 
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