Que fado o meu! - Eugénio de Sá

Tantas vezes meus versos são chorosos
Tantas as mágoas que neles se lêem
Que meus olhos recusam o que vêem
Se a pena os escreve venturosos

Sabe-se lá porquê, porque razão
Me flui da alma tanta amargura
Se a mão se tenta um verso de doçura
A pena corre lesta em negação

Que fado o meu, que triste ser assim
Que nem domino o jeito que há em mim;
De a contra gosto o verso me sair?

Será que ser poeta é por má sorte
Ter de pensar e crer que só na morte
Poderei versejar outro sentir?

Eugénio de Sá

Triste doçura - Cleide Canton

Denotas a tristeza no teu verso
em cantos de magia e prantos mil,
tingindo esse teu céu longe do anil,
no ponto mais escuro do universo.

Não negas desventura, dissabor...
Momentos de um pensar desfigurado,
na contramão do sonho malfadado
que a pena não aceita em outra cor.

Vertentes há em águas cristalinas
que fogem das tais curvas serpentinas
por lamaçais que aplaudem a má sorte.

Enquanto a luz não chega, abre a janela,
e espera o terminar dessa procela
que tornará, à vida, o rumo norte.

Cleide Canton


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