Mãos vermelhas, amarelas
mãos negras ou de brancura
desiguais na formosura
corre quente em todas elas
rio de sangue unicolor...
Rubro… na sábia vontade
da mão Divina em amor
preconizando igualdade
Porém... na iniquidade
escolhendo à’dversidade
usa o Homem imperfeito
mãos que doem como pedras...
Ferramentas da maldade
mesmo brancas causam negras
nódoas no corpo e no peito
estigmas de infelicidade
Outras, para o bem guiadas
não é cor seu documento
se mostrarão incrustadas
de perlas-fraternidade...
Negras, serão claridade
vermelhas, rubro calor
brancas, puro pensamento
amarelas, luz e amor
Mãos que enrugam de labor
moem, labutam na terra
secam ao fogo e no mar
para o sustento nos dar…
E as que sangram na guerra
para a paz nos sossegar
e as que velam com alor
pra nossas feridas sarar
Outras mãos há, mais serenas
que nasceram pra elevar
nossa alma, nossa mente…
Com a magia das penas
unhas da cor do sonhar
e dedos feitos voar
bordam palavras-semente
espalham poesia plo ar
 
AS MÃOS
EUGÉNIO DE SÁ
 
Há dois mil anos houve quem quisesse
Libertar do remorso a consciência
Deixando que uma horda p’la demência
Um Inocente em Mártir transformasse.
 
Julgou então Pilatos que lavar
Com água pura as mãos lhe bastaria
P’ra que a alma sentisse casta e pia
Sem mais razões p’ra se auto censurar.
 
Não bastaram então nem hoje bastam
Que rios d’água corram sobre quem
Outra vontade tenha – pois não tem –
Que liberte da dor os que se castram.
 
 
Que culpa tem um pobre pigmento
Que gerações transportam na genética?
Por que há-de ser assim vil e profética
A cor da condição do sofrimento?
 
Podem lavar-se as mãos, corpos e rostos
Com águas límpidas, até perfumadas
Que as roupas ficarão só encharcadas
Mas fétidos os gestos decompostos!
 
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Brasil/Portugal
21/Novembro/2008