Em tempos idos era eu gerente da sucursal de uma empresa
		seguradora, em Belo Horizonte. Estressado pela 
      responsabilidade imposta pelo cargo e por metas a serem alcançadas, sofri 
      por quatro meses com o distúrbio de uma glândula que me provocava sudorese 
      em excesso, independente do calor ou frio que estivesse fazendo.
			       Minhas mãos estavam sempre suadas e por mais que as 
      enxu-gasse em lenços preventivamente levados comigo, permaneciam úmidas.
			
       Meus contatos profissionais eram muitos, diariamente,
			 e fica-va constrangido, na hora do aperto de mãos, nas apresentações ou  reencontros de clientes.
			
			
			
			       
			Então, como recurso estratégico, ao ver mãos estendidas para mim, 
			ignorava-as e partia para um abraço, acompanhado de "Muito 
			prazer, Ary Franco". Neste período realizei bons negócios e 
			fiz grandes amigos, como nunca dantes.
			       Depois de "curado", com 
      tratamento médico adequado, resolvi continuar com meus, agora espontâneos, abraços. Ao meu gabinete de trabalho
		eram conduzidos os funcionários 
      novos, contratados pelo RH, para me serem
		apresentados. Desde o contínuo, até os mais graduados, eu levantava-me da
		cadeira, contornava minha mesa e 
      abraçava o recém-chegado, dando-lhes as
		boas-vindas. Era eu o gerente "mais 
      legal do mundo!".
			       Certa feita o gari que varria a minha rua, tocou 
      o interfone e perguntou-me se eu poderia assinar na "listinha de Natal". Peguei  uma nota 
		(não me lembro mais do valor) e fui ao 
			portão apor meu nome na lista. Ele retirou a luva da mão direita e estendeu-a para mim, desejando-me um Feliz
		Natal. Ignorei aquela mão e abra-cei-o,  retribuindo 
      os votos. Meio acanhado
		ele disse-me, duran-te o abraço: "Doutor, estou 
      sujo e suado" Eu respondi:
		"Perante Deus, talvez eu o esteja mais que 
      você!".
			       Daquele dia em diante, minha calçada era a mais bem varrida 
      e limpa
		de todas e era na minha casa  que ele mitigava sua sede nos dias 
      mais quentes
		sob o sol causticante que dificultava a exaus-tiva tarefa de 
      seu trabalho. 
			       Então, aí ficou para mim uma lição de vida, 
      transformando uma adversidade em um grande aprendizado, certamente 
      ministra-do pelo nosso Deus
		Criador.