Hoje caminhava pela praia e, perdido em mim,
recordava doces momentos...

Ao longe, o Farol da Ilha Rasa, depois de piscar
a noite inteira, parecia cansado de repetir:

Dois brancos, um vermelho...
Dois brancos, um vermelho...
Dois brancos, um vermelho...

... e minha alma, furtiva, refugiou-se no passado,
quando ele marcava o ritmo do meu destino. Triste
nas partidas, feliz nos incertos regressos...

Uma suave onda enlaçou meus pés fazendo com que,
por momentos, meus já vagarosos passos se calassem...

Senti, por encanto, o antigo canto do soprar salgado do
vento do mar a acariciar o meu rosto. Pele ressecada,
olhar atento a varrer o horizonte que, cativado pelo céu,
resistia em chegar.

Ali, eu festejava o mais absoluto encontrar da solidão...

Isto quando os meus líricos sonhos, na sua juvenil ilusão, buscavam
aventuras nos amores fugazes que nasciam já mortos, na embriagues
do momento vivido nos portos já distantes da vida...

O quebrar distante de uma onda me reconduz ao presente.
Sentado na areia, volto a olhar para o Farol... Um tênue
nevoeiro nos separa. Sinto, no fechar dos olhos, que são minhas
lágrimas a descarregar antigas emoções...

Na negação da vida, tento encontrar motivos para esquecer...

Tempestades, solidão, o olhar triste das estrelas, o vagar
itinerante pelo mundo, lábios esquecidos na rotina fria
das partidas...

Uma voz interna me retruca: - Não era a isto que amavas?

Com um leve suspiro, confirmo que sim...

Domingos Alicata
Rio de Janeiro - RJ - 24/07/2006