Esta noite eu tive um sonho


           
Esta noite eu tive um sonho, era como se eu despencasse de um grande precipício e caísse desfalecida no chão.

            Acordei sobressaltada e com o coração palpitante e a sensação de uma dor imensa, como se eu estivesse toda despedaçada. Tudo esta- va muito frio, até congelado dificultando a circulação do meu sangue e a respiração. Pensei até que era a proximidade da morte que vinha me ceifar nesse momento crucial.

            Algo separava o meu corpo físico do meu ser espiritual e da mi- nha psique.

            Nesse momento alguém se aproximava e cortava uma parte do meu corpo, parte que me ligava a minha essência.

            Eu gritei forte, mas tão forte que despertei com o meu próprio grito em forma de choro.

            Neste instante eu acordei e percebi que aquilo era algo que me fazia reviver o meu nascimento. Oh alívio... Ufe... Estava na minha ca- ma e tinha tido um pesadelo vivenciando a angústia aniquiladora do nas- cimento, como se expressa Melanie Klein. Estava sã e salva desse regis- tro que certamente, eu jamais iria vivenciar em estado de vigília.

            Imaginei o quanto é doloroso o nascimento, tanto para a mãe quanto para o bebê.

            Nascer, viver, morrer, algo dos quais nós não podemos fugir, sendo, portanto, possível compreender e ressignificar as angústias que estão registradas advindas do nascimento, pesos pesados demais para serem explicados sem a reedição dos registros que ficaram guardados no inconsciente. Só assim, pode-se dar a vida outro sentido.

            Os sonhos são o retorno, segundo Freud, aos nossos desejos in- conscientes, ao inexplicável pela consciência. Sonhos manifestos que estão padronizados por sonhos latentes. Na manifestação há uma másca-cara para camuflar os nossos verdadeiros desejos latentes. Mas eles são benfazejos para a nossa saúde mental e de grande utilidade para termos a oportunidade de retomar aquilo que está trancadinho à sete chaves.

            Será que o ato de nascer é mais um pesadelo do que um sonho? Aqui eu me reporto a Psicologia Transpessoal que trabalha as Matrizes Perinatais. Primeira Matriz, podemos dizer, na tranquilidade da barriga da mamãe, sem muitos comprometimentos, no lugarzinho quente, a- quoso, protegido. A segunda Matriz começa o sofrimento da trajetória que vai culminar com o se deparar com o mundo exterior. Nesta Matriz, começam as dores de parto e a criança sendo expulsa pelas contrações, do útero ainda fechado. A sensação é de morte, pois não há saída. Quantas vezes durante a vida nós nos deparamos com estas situações sem saída e nem nos lembramos que elas são a repetição do que já pas- samos nesta matriz? A terceira Matriz, o útero começa a se abrir para a passagem do bebê mas esse se sente espremido pelas paredes uterinas tendo a sensação de sufocamento. Muito sofrida essa passagem... Na quarta Matriz o bebê tem a sensação de cair,  despencar, se despeda- çar, fragilizado pelo sofrimento que já vivenciou, sai e se depara com a necessidade de respirar, precisa chorar para não morrer. Alguém corta o cordão umbilical, sua essência que lhe  sustentou durante nove me- ses, no útero  da mamãe. Essa é a primeira castração a que lhe subme- tem. Quantas marcas que precisam ser trabalhadas para não se desenca- dearem em patologias.

            Nascer, viver, morrer... É preciso morrer para nascer... Nós morremos e nascemos a cada manhã. Deixamos para traz coisas e assu- mimos coisas novas. Precisamos dessa renovação permanente para nosso equilíbrio  e saúde. Reflitamos nesses sonhos e nas explicações que a ci- ência nos possibilita para melhor compreendermos esta máquina tão perfeita que nós concedeu o Autor da Criação: O nosso SER.

Ninita Lucena

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