Confidências de um Anjo Pretinho


Ah! que saudade daquele anjo pretinho que se chamava SINHANA.

            Era eu adolescente e, longe de casa, naquela grande cozinha da Escola Doméstica de Natal onde tanto tempo morei, ali, precisamente, para muitas alunas, era apavorante aqueles plantões, aulas práticas de cozinha, lavando enormes panelas, aprendendo a cozinhar, tudo isto para mim era extremamente gratificante. Havia ali o meu anjo pretinho que fazia a diferença, com suas orientações, carinhos e mimos.

            Lembro que em dias de banquete, ela enchia os bolsos do seu avental de salgadinhos e me procurava para fazer o seu agrado, eu me sentia maternalmente cuidada, mimada.

            Sinhana, que eu chamava "Sinhaninha ou Aninha", era um anjo pretinho, mirrado mas de um coração maior do que ela própria. Querida por toda a comunidade escolar ela ia dando o seu jeitinho, orientando, junto a Professora Jair (muito querida também), os afazeres da cozi- nha.

            Aninha fazia parte da vida da Escola Doméstica de Natal, do seu patrimônio, junto a Seu Mano, outra pessoinha muito querida, ladeados pela querida Diretora Noilde Ramalho. Ali era uma grande família, a minha segunda família. Pessoas lindas e maravilhosas.

            Lembro, ainda, daquele mingau de aveia tão nutritivo e saboro- sa, marca registrada do nosso café matinal, a banana caramelada, so- bremesa de destaque nos dias de feijoada, as ceias, com bolo preto e outras iguarias. Oh, Aninha, apesar da sua avançada idade, você sempre estava a frente  de tudo, juntamente com a Maria, que era a melhor ta- pioqueira que já conheci. Jeitinho meigo, muito dedicada, o nosso que- bra galho nas dificuldades, era Maria, nos plantões da cozinha grande.

            Aquele suntuoso casarão que hoje é mais que secular, cresceu, se ampliou sob a orientação da sua querida diretora, Noilde Ramalho e das demais professoras.

            Nos dias atuais composto de dois colégios, a tradicional Escola Doméstica de Natal, que preserva a tradição até no fardamento branco e o Henrique Castriciano, colégio que atende, diferentemente da Esco- la Doméstica, aos dois sexos; e a FARN, faculdade que nos seus diversos cursos, vem colocando profissionais qualificados no mercado de traba- lho. Tudo Isso fruto de uma cabeça firme e pensante chamada  Noilde Ramalho, recentemente falecida, que que se imortalizou pela sua obra suntuosa, sendo o maior expoente educacional do Rio Grande do Norte.

            Mas, vale ressaltar que aquele anjinho pretinho, fez junto que muitas outras pessoas, essa história que marcou a história. O seu cari- nho, as suas confidências ao pé do ouvido, os seus segredinhos ditos lá no seu quarto as alunas que ela tinha como filhas, já que não teve filhos biológicos. Eu me sentia um pouco sua filha. Era preciso muita afinidade para ela falar algo do seu passado, da sua vida intima. Como se você elegesse relicários confidenciais que para as escolhidas, era uma honra, ser confidente de um anjo.

            Meu anjo, lá no céu eu sei que você está junto a outros anjos, não sei se você é um anjo pretinho, ainda, ou tomou a cor resplande- cente pela luz interior que sempre emanou do seu ser.

            Sei que um dia iremos nos encontrar nas mansões celestiais e vai ser muito gostoso este encontro. Quero lhe dar um abraço muito grande e relembrar dos nossos segredinhos que só nos duas sabíamos. O que eu “cochichava” com você e o que você me segredava, segredo esse que levarei para a eternidade.

            Saudades, Aninha. Você continua muito viva no meu coração.

            Beijinhos e muitos denguinhos espirituais para você.

Ninita Lucena

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