Cidade Nua


Nas asas da calada da noite
Sobre os escombros da cidade morta
Meu grito de dor e lamento ecoa ensurdecedoramente
Quebrando o silêncio e despertando os amantes
Que como lótus negra dormitavam no prazer da carne
Varando paredes, expurgando fantasmas
Uma estranha loucura agarra-me o corpo
As sombras negras ao meu redor me enfeitiçam...
Porém, meu amor é bem maior que o feitiço da morte.
Grito teu nome! minhas mandíbulas escancaradas
Te pedem o vinho de sangue de tua boca
Gotas de suor caem como gotas espessas rubras
Num fetiche delirante de morte, prazer e loucura total
Meu gemido de lamento transpõe os muros de ferro
nada vai impedir que eu queira ficar ao teu lado
Os amantes abrem as janelas e me veem despudoradamente nua
Já não vago em mim, não ouço o vento a cantar
Não vejo mais a lua.
Retirou-se para espreitar meu ato de amor
Os amantes se recolhem,
voltam para seus prazeres noturnos
Eu continuo...
Meu sangue começa a gotejar lindo e quente.
E, nos escombros da cidade morta, vazia e muda
Meu grito de lamento e dor continua a ecoar.

Rose Sadalla
Rio de Janeiro - RJ - 20/08/2001 - 03:00 hs



 

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