Tua partida

TUA PARTIDA
Ary Franco (O Poeta Descalço)


Desde que te fostes, meu coração parou.
O sol se apagou, este poeta se calou.
Longe vai o tempo em que eu sorria.
Já de há muito, feneceu minha alegria.

Em meu jardim, as rosas murcharam.
O bem-te-vi e o sabiá não mais cantaram.
Tempestades vejo em meu negro horizonte.
Te fostes, sem dizer o porquê ou para onde.

O bilhete, inda até hoje, por mim guardado,
Deixando um adeus sobre nossa cama jogado,
Sempre o releio, após cada oração que faço.
Penso, mas não atino o motivo de tal fracasso.

Mantenho meu combalido coração e braços abertos.
Se o destino te for cruel, venha, que estarei por perto.
Acredito que um dia sentir-te-ei de volta ao meu lado,
Para alegria e renascimento deste pobre desamado.

Não te perguntarei por onde e com quem andastes.
Te verei linda e sensual, mesmo parecendo um traste.
Meu amor, minha paixão, continuam do mesmo jeito.
Eis a razão pela qual te receberei, sem qualquer rejeito.

Sufocam-me os soluços. Que triste Natal!
Só! Mesa vazia sem ânimo para comemorar.
Eu que sempre te tinha num sublime pedestal,
Premido pela saudade, penso até a me matar!

Alguém bate à porta. A contragosto, levanto-me para atender.
Milagre natalino! Minhas preces foram ouvidas! Ela tinha voltado!
Sem nada dizermos nos beijamos. Não quis, nem procurei entender.
No mais Feliz dos meus Natais, chorando, quedamos abraçados!