Prumo ao amor
Poetisa Ruthy Neves |
Nesta época de Natal eu sinto saudades que me retornam ao tempo de minha infância, mocidade, mulher...
Quase uma vida inteira.
Sinto saudades de minha avó por quem fui criada.
Sinto falta de suas histórias a luz de lamparina, arrumando o presépio no canto da sala.
Ficávamos, eu e meus irmãos menores amassando os papéis para parecerem com pedras, na gruta que ela, com eles formava.
Gostava de ver as figurinhas que compunha o arranjo da linda montagem que ela fazia para aguardar a vinda do Menino Jesus.
Saudades de ouvir o barulho irritante do pedal da máquina, de onde sairia as roupas que usaríamos na grande noite.
Saudades das noites que ficávamos a contar histórias, sempre de causos antigos, mula sem cabeça, saci-pererê, e tantas
outras.
E na parede com nossas mãos fazíamos várias figuras que depois na hora de dormir ainda podíamos vê-las na imaginação infantil com muito medo.
Saudades dos cheirosos quitutes, que quando podiam ser feitos era uma fartura muito esperada.
Saudades de suas cobranças que hoje vejo o quanto foram impor-tantes para o crescimento de minha personalidade e da formação
de um caráter respeitado.
Essas são lembranças que fizeram parte do início de minha ca-minhada, e então cresci, casei, descasei e fui morar na casa
dela novamente, então aprendi a conhecer a minha avó, a mulher que hoje eu sei que deu a sua força para formar uma família.
Aprendi a conhecê-la com 75 anos, tarde...
Muito tarde.
Gostaria de ter conseguido ficar mais tempo resga-tando todo o seu conhecimento da vida.
Eu ainda tinha tanto para aprender.
A vida engoliu a possibilidade de convívio, e eu ainda não tinha aprendido a dizer todos os dias, todas as horas o quanto
ela era importante, o quanto eu a amava.
Por que aprendemos tão tarde... Só quando perde-mos...
Quando a dor arde no peito nos revelando o quanto somos egoístas
em querer e não dar.
Mesmo assim ela se foi se doando em cuidados, em amor por todos.
Lembro-me do dia que entrei na cozinha e ela me disse:
Filha eu sei quando você chega, antes mesmo de você entrar.
Você é a
única que tem seus barulhos inconfun-díveis, você vem falando com os bichos, com os cachorros, com as plantas, que se precisarem de água, você primeiro vai molhá-las,
e por último você vem falar com o seu papagaio que cantarola o seu nome insis-tentemente.
Até chegar aqui e perder tempo com esta velha que vive a vida
observando.
Ela me conhecia...
Eu ainda não a conhecia, mas ela sabia tudo de mim, e eu nunca falei nada.
É o conhecimento de quem ama
verdadeiramente que ela tinha.
O dia a dia, a rotina das conquistas nos tiram do pru-mo do amor.
De ver quem está do nosso lado. De nos entregarmos para o amor mais simples de nossa vida, e tão maravilhoso.
Um amor exigente das coisas certas que para nós naquele momento são tão irritantes.
Não queremos ser chamados à atenção, somos nós que sabemos, eles coitados não tiveram o mesmo conhecimento que
estamos tendo.
Grande ilusão...
Eram eles que sabiam das coisas.
Podemos ver por tudo que está acontecendo nos dias de hoje, quando não se monta o caráter desde pe-queno.
Ela sempre dizia:
“É de pequeno que se torce o pepino”
Quanta coisa está errada aí pela vida por falta de valores, que são agregados quando estamos iniciando a vida.
Talvez até poderíamos hoje dar boas risadas de alegrias com a nossa política funcionando perfeitamente, sem roubos,
sem conchavos, sem esta escória manipulando o nosso dia a dia.
Que nos fazem todos iguais dentro de um navio ne-greiro com algemas da escravidão de um trabalho para usufruto de alguns
que nós mesmos escolhemos.
Não deixamos de ser escravos, somente mudou o nome para respon-sabilidades fiscais, impostos, taxas etc... etc...
Mas isto os mais antigos já sabiam e nos falavam, mas nós não acreditávamos.
Isto acontece desde o início dos tempos, e está relacionado com a informação.
Nada acontece quando você aprende e guarda para si... como fa-zemos com os mais velhos que não queremos ouvir o seu
apren-dizado.
Precisamos colocar no mundo a informação para muitos...
Muitos aprenderem e modificarem esta situação.
Precisamos fazer barulho quando chegamos, precisamos dizer en-quanto temos tempo.
Não podemos concordar com o que está acontecendo.
É injusto com as pessoas dignas, de caráter que querem ver e viver num mundo melhor.
É triste ver que numa época tão linda, cheia de espe-ranças pela paz, união, fraternidade, sentimentos que afloram na
comemoração do nascimento de Jesus, você ligue a televisão, ou veja pela internet, que famílias e famílias estão debaixo d’água e que per-deram todos os seus pertences,
mortes de pessoas com coragem de lutar por respeito aos direitos de outros, e os governantes em seu majestoso trono de prepotência votarem em seus salários, deixando
a população a penar sem ter esperanças de passar em um lugar para se lembrar que uma estrela anunciou a vinda do Salvador, pois em suas cabeças tem um manto de
estrelas anunciando que eles não têm um lugar para morar.
E que quando fazemos as contas dos roubos que acontecem em todas as áreas todos os problemas poderiam ter sido
solucionados.
Até quando?
Minha avó dizia que não devemos questionar DEUS, pois ele sabe de todas as coisas e dos porquês, porém devemos
colocar e explanar para ELE o que acontece conosco quando vivenciamos certos pro-blemas.
Nós temos que conversar com ELE e deixá-lo agir, esquecer... pois quando não esquecemos nós mesmos atrapalhamos confundindo
suas providências.
Neste Natal eu irei louvar o Senhor pedindo a ELE que de alguns presentes para a Humanidade fora da área comercial, dê de
presente a Solidariedade... Paciência... Respeito, em todos os ber-ços para que o nosso futuro seja modificado por quem está nas-cendo agora e pode ter em suas mãos
a chave para um mundo de PAZ.
Nós vivemos pedindo um natal de Luz para quem não tem esperança de ter dinheiro para pagar as contas, pedimos Paz para
um povo que não tem nenhuma esperança das revoluções serem resolvidas, isto porque não pedimos para quem pode resolver dar o seu espírito invadido pelos sentimentos
que vão humanizar os que atualmente mandam e podem resolver.
Que DEUS nos prepare para saber das coisas e faça acontecer nem que para isto tenhamos que começar em nosso metro quadrado
respeitando as pessoas que nos envolvem e valorizando o nosso maior bem maior que é a Família.
Vamos implantar coisas cheias de valores reais para os nossos filhos e netos.
Vamos ser verdadeiros engenheiros da vida e corrigir nossas me-didas e acertar o verdadeiro prumo... o prumo com amor,
indicando a direção vertical que conduz ao PAI.
Que DEUS derrame suas bênçãos na vida de todos e conforto para todas as situações.