Incompatibilidade de Gênios - Composição: João Bosco & Aldir Blanc
 

Incompatiblidade de Gênios

Colaboração recebida do amigo Maurício em 26/02/2007

Clementina de Jesus
Intérprete



Incompatibilidade de Gênios

  João Bosco & Aldir Blanc

Dotô,
jogava o Flamengo, eu queria escutar.
Chegou,
Mudou de estação, começou a cantar.
Tem mais,
Um cisco no olho, ela em vez de assoprar,
Sem dó,
Falou que por ela eu podia cegar.

Se eu dou,
Um pulo, um pulinho, um instantinho no bar,
Bastou,
Durante dez noites me faz jejuar
Levou,
As minhas cuecas pro bruxo rezar.
Coou,
Meu café na calça prá me segurar

Se eu tô
Devendo dinheiro e vem um me cobrar
Dotô,
A peste abre a porta e ainda manda sentar
Depois,
Se eu mudo de emprego que é prá melhorar
Vê só,
Convida a mãe dela prá ir morar lá

Dotô,
Se eu peço feijão ela deixa salgar
Calor,
Ela veste casaco prá me atazanar
E ontem,
Sonhando comigo mandou eu jogar
No burro,
E deu na cabeça a centena e o milhar

Ai, quero me separar



1902-1987

Um diamante bruto.

Assim se poderia definir essa cantora que deu inicio à sua carreira profissional aos 48 anos de idade, depois de ter trabalhado por mais de vinte anos como empregada do-méstica.

Seu canto rouco e quase falado estava fora de qualquer padrão estético e até hoje sem qualquer paralelo entre as cantoras brasileiras.

Almas gêmeas, não pelo repertório mas pela forma selva-gem e pela maneira que integrava voz e corpo, que se soltava com todo o tipo de dança, podem se comparar a cantoras afro norte-americanas como uma Bessie Smith.


Dessa forma sua ancestralidade africana permitiu que ela estabelecesse uma ponte do riquíssimo folclore dos ter-reiros com a linguagem urbana e contemporânea.

Clementina foi o retrato do sincretismo Brasileiro.

Das rezas em gege e nagô e cantos em iorubá que ouvia de sua mãe e dos hinos católicos que cantava no coro da igreja; dos pontos de candomblé e dos sambas de roda das festas das quais participava.

Em 1963 foi convidada por Hermínio Bello de Carvalho que a ouvira anteriormente numa festa a subir ao palco do Teatro Jovem, em Botafogo, abrindo o movimento Me-nestrel, que unia os eruditos aos populares.

O erudito que acompanhou Clementina foi o violonista Turíbio Santos.

A repercussão foi enorme, e inspirou Carvalho a dar se-quencia.

Foi criado o musical Rosas de Ouro.

Nele, Clementina contracenava com a cantora de Teatro de Revista, Araci Cortes e tinha como acompanhantes jo-vens talentos, como Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Nelson Sargento, entre outros.

CLEMENTINA DE JESUS não foi à escola para aprender téc-nica vocal, aprendeu sim a cantar, ou melhor, desenvol-veu seu canto durante o trabalho do dia a dia.

TINA ou QUELÉ como era chamada pelos amigos, gravou ao longo de sua carreira 9 LPs e 3 compactos e participou de discos de outros artistas, como por exemplo Milton Nascimento.

Faleceu em julho de 1987 aos 85 anos de idade deixando um vazio mas a memória de uma raça registrada para as gerações futuras.


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