A visão de cada um

Recebida em 04/09/2007


Dois homens, muito enfermos, ocupavam uma mesma enfermaria em um grande hospital.

Sua única comunicação com o mundo de fora era uma janela. Um deles tinha a sua cama perto da janela e, todos os dias, tinha per-missão para se sentar em sua cama, por algumas horas. Tudo como parte do tratamento dos pulmões.

O outro, cuja cama ficava no lado oposto do pequeno cômodo fica-va o dia todo deitado de barriga para cima.

Todas as tardes, quando o homem cuja cama ficava perto da janela era colocado sentado, ele passava a descrever para o companheiro de quarto o que havia lá fora.

Falava do grande parque, cheio de grama verde, de árvores frondo-sas e flores mais além, em canteiros bem cuidados. Descrevia o lago, onde havia patos e cisnes. Falava das crianças que jogavam migalhas de pão para as aves, e dos barcos de brinquedo que colo-riam as tardes de verão.

Falava dos casais de namorados que passeavam de mãos dadas entre as árvores, dos jogos de bola muito disputados entre a crian-çada.

Dizia que bem além da linha das árvores, ele podia ver um pouco da cidade, o contorno dos altos prédios contra o azul do céu.

O homem deitado somente escutava e escutava. Houve um dia em que ouviu, preocupado, o caso de uma criança que quase caiu no lago, sendo salva a tempo por sua mãe.

Num outro dia, a descrição minuciosa foi a respeito dos lindos ves-tidos das moças que saudavam a primavera em flor.

O homem deitado quase podia ver o que o outro descrevia, tantos eram os detalhes e a emoção do companheiro sentado. E, aos pou-cos, foi se tomando de inveja.

Por que somente o outro, que ficava perto da janela, podia ter aquele prazer? Por que ele também não podia ter aquela mesma oportunidade?

Enquanto assim pensava, mais se envergonhava e, no entanto, não conseguia evitar que tais pensamentos o atormentassem.

Certa noite, enquanto estava ali olhando para o teto, como sem-pre, percebeu que o outro começou a passar mal. Acordou tossin-do, parecendo sufocar.

Com desespero, o botão de emergência foi acionado. As enfermei-ras correram. O médico veio. Nova aparelhagem respiratória foi providenciada, mas tudo em vão. O homem morreu.

Pela manhã, seu corpo sem vida foi retirado dali. Então, o homem que permanecia sempre deitado, pediu para que o colocassem na cama do outro, próximo da janela.

Logo que assim foi feito e a enfermeira saiu do quarto, ele fez um grande esforço, apoiou-se sobre o cotovelo, na tentativa de se er-guer no leito.

A dor era intensa mas ele insistiu. Com muita dificuldade, ele olhou pela janela e viu... apenas um enorme, alto e feio muro de pedras nuas.

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A vida tem o colorido que a pessoa lhe dá. A paisagem se torna cin-zenta ou plena de luz de acordo com as lentes de que se serve a pessoa para olhá-la.

Sofrer a enfermidade e se fechar na dor ou enfeitar de vivas cores o quadro que vive, é opção individual.

Há os que sofrem pouco e se desesperam, aumentando sua carga de dissabores, com as lentes escuras e sombrias de que se servem para contemplar tudo e todos.

Há os que sofrem muito e se dizem tranquilos, padecendo serenos.

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Equipe do site www.momento.com.br, com base em texto
homônimo de autoria desconhecida.
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Redação do Momento Espírita

www.reflexao.com.br

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