Livro Encontro I - Ano de 1979 -
Poesia classificada em 1º lugar

DESPERTAR - Aparecido Izabel Massi

I
A CONSCIÊNCIA

   Corri no tempo,
   deixei a alma
   o sangue!
   Mergulhei no passado,
   me molhei no esquecido,
   me enxuguei no presente,
   floresci no futuro!
   Mas o que é certo?
   Se até hoje caminhei em círculos
   embebido pela minha própria voz,
   embalado por meus passos e ruídos!
   Onde?
   Quando?
   Para onde a terra prometida?
   Sou um caminhante na sombra,
   na luz,
   sozinho,
   criatura e Criador
   caminhante!
   Será tudo imaginação da mente conturbada?
   Quem me confundiu tanto?
   Vaidade?
   Basta de enganos e pretensões!


 
   Olhai!
   Sou uma larva!
   Olhai e não esqueçais!
   Prisioneiro sou da carne,
   do mundo,
   Prisioneiro da necessidade por mim criada,
   inseguro até a própria sombra,
   inseguro
   e triste!
   Não sei se minha voz é de meus lábios,
   se meu olhar é luz de meus olhos,
   se meu resultado é a soma de mim mesmo!
   Não saber é triste!
   Inseguro!
   Uma desgraça oprimindo um desgraçado!


  
 Sou um rio soturno que deságua no mar da madrugada.
   Sou um HOMEM!
   Solitário!
   Triste!
   Pobre fragilidade da criação,
   de corpo cansado e alma em pedaços.
   Mas sem temor do que já dito,
   sem temer o que já feito,
   sem temor,
   novamente insisto na aurora,
   na luz,
   no sol! 


 
  Mas o que me importa agora é o espinho que está presente,
   porque nada restará da alvorada,
   do crepúsculo de uma existência,
   ou mesmo das luzes do meio-dia!
   SOU UM HOMEM!
   Criatura e Criador caminhante!
   Enganados pelas miragens!
   As areias são quentes
   e o deserto é longo,
   muito longo para meus pés!

II
ANGÚSTIA

   PARTIR!
   Partir e não voltar!
   Para sempre não voltar.
   quebrando os grilhões em plena treva.
   Para sempre!
   Adeus, nunca mais!
   Nunca mais voltar.
   Para sempre adeus à infância,
   à juventude,
   às horas difíceis!
   A partida está lembrando o possível de um outro canto.


 
  Na despedida,
   olhar para mim mesmo e compreender a condição de servo.
   Pela derradeira vez olhar!
   Bem-aventurados, todos bem-aventurados,
   porque na partida todo aquele que olhar em torno,
   todo aquele que olhar para sua própria sombra,
   em maldição sua imagem ficará.
   Para onde seguir!
   Para onde dirigir o olhar que longe abrange?
   PARA ONDE?
   Estou extraviado
   certamente estou!
   Não adianta fugir!
   Sou pobre e frágil criatura, servo do Criador!
   Mas, mesmo sabendo do perverso castigo,
   mesmo sabendo de todos os martírios,
   desejo a libertação para existir um dia,
   se possível.


 
  Malditos os conformados!
   Malditos, de maldição e de vergonha!
   Tivemos todos uma consciência pura,
   tranquila e pura
   como o sono de um menino.
   Oh! Se a partida fosse breve
   e se a consciência não clamasse tão alto.
   Partiria para sempre quebrando as algemas,
   na escuridão
   para sempre!


 
   Partir
   tão somente partir!
   Partir sem esperança,
   sem pensamentos,
   entre o vácuo,
   o sono
   e o sonho!
   Repousar no extremo o corpo cansado
   de tantas compaixões.


 
  Repousar até o nunca mais repousar,
   quando o Deus dos Exércitos
   conciliar todas as gentes e os povos
   para a final luta de grandeza,
   através dos rios,
   vales,
   cidades,
   selvas e trevas,
   entre nós
   e os homens
   mais felizes,
   ou mais desgraçados
   que virão!

III
A AURORA

   Embebido em meu sono
   durmo acordado sonhando,
   é esperança!
   Já não durmo,
   vivo,
   vejo,
   acordo,
   é madrugada!
   Já não corro,
   ando,
   paro,
   sinto,
   é amor!
  
   Quietos!
   Ouvi!
   é o silêncio cantando,
   falando,
   pulando nos ramos da manhã,
   brincando com a liberdade,
   pendurado nos galhos do dia!
   É manhã!
   É luz!
   É criatura e Criador
   caminhando,
   misturando-se
   é amor!
  
   Levanto,
   corro a me embalar no silêncio!
   Embebido do silêncio
   em cima da montanha
   vejo rios e vales,
   alvorada e crepúsculo,
   gentes e povos
   misturados
   com o Criador!
  
   Olhai,
   mas não vos esqueçais!
   Vede a pureza
   o sorriso da rosa com o menino!
   É criatura e Criador
   caminhando numa só caminhada!
   É o silêncio do menino triste
   no colo da criança calada
   que irá crescer na manhã da alegria!
  
   É madrugada!
   Aurora!
   Luz!
   Alegria!
   Dia!
   Festa!
   Por isso,
   sem temor do que já dito,
   sem temer o que já feito,
   sem temor
   novamente insisto
   na AURORA !



Formatação de Carlos Roberto Lemberg
 

 
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