Marcial Salaverry
António Castel-Branco

Este nosso amor...
com tamanho ardor...
assim tão distante vivido,
tornado deveras sofrido,
talvez não fosse
nem precisava ser,
tão grande
tão ardente
se juntos estivéssemos...
se o espaço partilhássemos...
Dizem os poetas...
cantam os trovadores...
que se os amantes
com todos seus temores,
se juntassem,
se partilhassem,
talvez não se suportassem...
e rapidamente se cansassem...
Viver juntos não poderiam...
O mesmo lar não partilhariam...
A ausência, o eterno sofrer,
a saudade, o eterno esperar,
é que não deixa o amor morrer,
é que faz o amor durar.
A distância que nos separa,
impedindo de nos ver,
é o verdadeiro fator
com inusitado ardor
que sustenta nosso amor,
sempre alimentado de dor.
Como a rosa para ser bela,
cativar e encantar,
espinhos tem que ter,
para se poder defender,
o amor só se revela,
só aprendemos a amar,
quando estamos a sofrer,
quando dói a valer.

Marcial Salaverry
António Castel-Branco



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