FADO, GUITARRA E SEVERA
(Sextilhas)

Carmo Vasconcelos


Com licor de feitiço me embriagaste,
Em poemas de ínvio fado me enrolaste,
Fui guitarra e Severa apaixonada…
Por ti, tangi as notas mais plangentes,
Saí do tom em delírios deprimentes,
Rompi as cordas da alma lacerada.

Porque bebi do néctar da loucura,
Adorar-te foi trova de aventura,
Nesse fado de engano e de ilusão…
E agora esta guitarra plange rouca,
Do tanto que te quis em vida pouca,
Do pouco que lhe quis teu coração.

E a noite enferma só lhe traz murmúrios
Do que antes foram címbalos de augúrios
promissores; saltérios de magia...
E a Severa, tristonha, embrulha o xale,
Já não há fado amado que ela embale,
E a guitarra sucumbe em nostalgia.

***
Lisboa/Portugal
6/Setº/2010
https://carmovasconcelos.spaces.live.com



FADO CANALHA
António Barroso (Tiago)


Fado canalha, sardinha no pão,
Varina que anda louca de paixão
Em busca do rufia seu amante,
E nos gemidos que a guitarra traça,
Há sons que adivinham a desgraça
Naquele lugar e naquele instante.


Quando o vê, no braço doutra mulher,
Sente que a trocou por outra qualquer,
Que era falso o amor que lhe jurou,
Então, da liga, uma navalha agarra
E, ao som dos acordes da guitarra,
Com duas navalhadas o matou.


Anda, agora, triste, de olhos de água,
Chorando, pelos cantos, sua mágoa
Desse momento louco e desvario
Dum ciúme intenso, desmesurado,
Carrega, com saudade, um novo fado
Sem guitarras a tocar no seu vazio.

***
Parede - Portugal (13-11-2010)
 


 

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