INVISIBILIDADE

Odir Milanez

Ana Kilesse



O cansaço incorpora-se ao castigo

do corpo, pelo tempo transformado

para se por presença do passado

ou ser, entre os demais, o mais antigo.



Vivendo sem sequer contar um amigo,

sem nunca questionar sobre o destino,

aceita a imputação de seu castigo

pendente dos preceitos do Divino.



Os seus passos, parceiros do perigo,

pontapeiam no piso malcuidado.

Pesa-lhe o pranto preso, não chorado,

ante a falta da face de um amigo...



Outros passos com ele dividiram


a poeira do chão já desgastado.

Quantos pés, quais os seus, não se serviram

do mesmo pó por ele levantado...



Fala às falas que falam. É inaudível

o que diz. Ouvir querer quem há de,

na cidade que o tem como invisível?



Não há quem queira ouvir os lastimáveis

lamentos dos seus passos. A cidade

o moveu para o mar dos miseráveis!



Aqui nasceu, viveu a mocidade.

Para e passa a pensar: parece incrível.

Ninguém o vê vivendo essa cidade!


Cidadão com direito à liberdade,

é tido entre os ninguéns, os retiráveis,

os que se vão, sem voz, além da idade!




Fundo Musical Online: Ojos Tristes - Astor Piazzola

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Créditos
Criação, Arte e Formatação
Ana Maria Kilesse