Caminhando com o tempo

Recebi em 18/04/2013


Hoje, durante minha caminhada matinal, tive uma agradável re-gressão ao meu longínquo passado. Na minha terceira volta pelo quarteirão, avistei uma criança orbitando seus quatro aninhos brin-cando com umas pedrinhas, vigiado por sua zelosa mãe.

De passagem, desejei um bom dia e o menino, ao me ver, correu para abraçar-se em minha perna direita. Parei de imediato minha marcha e surpreso acariciei sua cabecinha.

__ Vovô, vovô... repetia ele

Olhei meio interrogativo e surpreso para a mãe do menino e ela justificou-se dizendo que o avô tinha morrido mês passado e, ago-ra, seu filho deve ter visto meus cabelos brancos e se lembrado dele. Foi demais para mim! Sentei-me no meio-fio e começamos a brincar com as pedrinhas do Felipe. Acabou-se a minha caminhada da manhã.

Ao retornar pra casa, o passado tomou-me de assalto. Lembrei-me de quando estava naquela idade de transição de garoto para ado-lescente. Uns pelinhos já se insinuavam em meu rosto e estava na hora de pedir licença ao meu pai para começar a me barbear. Sim, pedir licença ao meu pai para começar a me barbear! Naquela época era assim que éramos educados. A isso dava-se o nome de berço!

Bem, voltando ao assunto, naquela prisca época estava eu passan-do por uma determinada rua e um grupo de garotos jogava na calçada oposta à minha, uma “pelada” com bola de meia. Um deles deu um chute mais forte e a bola veio parar aos meus pés. Aí aconteceu o que marcou o início da nova fase adolescente de minha vida.

__ Moço, oh moço, devolve a bola pra nós?

Moço! Eles me chamaram de moço! Cresci! Sou um adulto! Viva! Chegando em casa corri para o espelho e orgulhosamente me olhei. Naquele mesmo dia, criei coragem e quando meu pai chegou do trabalho, pedi autorização para me barbear, o que foi concedido acompanhado de um forte e emocionado abraço trocado entre nós dois.

De início usei o mesmo aparelho de barbear do meu pai. Logo depois ele solenemente me deu um de presente, acompanhado de um pacotinho de giletes. Êta passado como fostes bom para mim, mas como me fazes chorar. Chorar e amargar aquela saudade que teima em morar neste meu idoso, mas ainda teimosamente ufanoso peito.

Mais tarde, bem mais tarde, comecei a ser chamado pela garotada de Tio. Oh Tio... devolve a bola pra nós? E o tempo marchou célere ao meu lado. Os cabelos brancos chegaram e pouco a pouco expul-saram todos os fios negros que haviam em minha cabeça. Virei vovô!

__ Oh vô! Quer devolver a bola pra nós?

Ary Franco
(O Poeta Descalço)




Fundo Musical: Caminhando por um bosque
 

 
Anterior Próxima Crônicas Menu Principal