CONFIDÊNCIAS

Confidências

Em vigília minhas mãos aguardam o poema
Os versos parecem adormecidos
Deitados entre os lençóis da indiferença
Os dedos respiram intranqüilos
Despidos de qualquer inspiração

Sento-me a conversar com meus silêncios
Repousada da urgência das letras
Tentando esquecer o sentido de algumas palavras
Mas há uma saudade a ser escrita, anunciada
Difícil controlar este estremecimento
Que me assalta feito trilo sem flauta
Quando me tomas o pensamento

E essa inquietude derrama-se
Para além do exprimível e manifesto
Há uma emoção a transbordar
Invadindo-me os dedos, o olhar, o peito
Resta-me o abraçar da vertigem do dizer-te
Em minha linguagem que é tão tua

Rendo-me a ternura do falar-te
Essa que me é permanente e inadiável
É que mesmo ausente, nunca te vais de mim
Enquanto teus passos caminham
Em estradas que não alcanço
Levo-te em meu peito
É aqui que sempre estás e permaneces
Enquanto a vida procura um jeito
De novamente nos reencontrarmos

Em tuas vindas em horas imprevisíveis
Findas por encantar-me, como quase tudo em ti
Fico a tentar segurar o tempo
Adiando o ter que contemplar
O último beijo deixado
Pronto para ser despedida

Como não te dizer desta solidão
Que sempre te espera?
É que me abres os botões da alma
Envolvendo-me com a fragrância de sonhos e sorrisos
Que já se deixavam amarrotados em meus sótãos

Há um indescritível prazer
A cantarolar em meus olhares,
Como um músico que descobre uma nota
Desde muito tempo desejada
Quando te sei em proximidade
É que me tomas, além do que confidencio
E como já me é natural esse teu adivinhar-me

E ainda que o tempo ensaie bocejos,
Meu coração desencolhe-se
Retirando os vincos da tua ausência
Como a confessar a eternidade
Em que te pertenço
Na memória da saudade
Sempre habita o calor das emoções sentidas
E a melodia dos desejos por viver
É que em noites como esta
Os lábios das minhas palavras te beijam

Fernanda Guimarães



Fundo Musical: Vestígios Da Saudade

 
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