Sabores da vida


O Homem, amargo.
Mulher, doce.

Esquecido gosto do leite materno.
Inesquecível sabor do primeiro beijo.

Salgadas ondas calmas do mar da infância que
abraçavam e partiam saudosas do nosso calor.
Vida saboreada com os temperos do coração.
Doces sonhos delineados por sensuais contornos
e perdidos no fascínio de desejoso olhar.

Beijos preguiçosos, acomodados na ternura dos
lábios enamorados que, apaixonados, ao salgado
sabor do novo prazer se rendia, quando, na praia,
ainda indolentes, percorriam sem pressa as costas
morenas da amada.

Pipocas, doces ou salgadas que, na penumbra do
cinema disfarçavam a tensão e, furtivamente,
encorajavam o beijo. Beijos ardentes, respeitosos,
fraternos, eufóricos, falsos, tímidos, frios, distantes...
Como definir tantos sabores?

Frios ventos dos gélidos oceanos que, salgados,
fustigam solitários navios que deslizam pelos mares,
ferindo olhos entristecidos e já cansados de esperar
por um horizonte que não chega.

Cálice, seco ou suave, das uvas do prazer que trazem,
em suas sementes, o fulgor tentador do olhar ardente.
Celestial vinho que, em comunhão com o pão, em corpo
e alma se transforma, na expressão mais sublime da fé.

Tintas, clássicas ou modernas, fortes ou tênues, lúcidas
ou loucas que marcam, pela sensibilidade dos pincéis,
o sabor da alma sonhadora dos artistas.

Longas noites de alcoólicas ilusões onde se sustentam
desconexas filosofias na força dos argumentos já repetitivos
nos sonolentos lábios. Olhos perdidos no vazio e mãos já
fracas que se agarram, já subjugadas, ao copo vazio...

Frio e amargo momento quando, pelo último suspiro, a
vida se retira em busca da leveza do sabor desconhecido
da eternidade.

Mágica mistura de todos os sabores nos quais procuramos
um sentido do que é, realmente, viver...

Domingos Alicata
Rio de Janeiro - RJ - 29/04/2004




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