Elegia a solidão
 
 
Recebi em 27/05/2007
 
Elegia a solidão.
Arneyde T. Marcheschi

Inverno dentro do coração
ventos negros entre a alma e o corpo
rasgam e devoram as emoções.
Brota do chão a flor negra do medo,
flor que não é bonita, nem nada
perfumada... a flor da solidão.

Existe em meus pensamentos
algo de corroído, fúnebre
um desejo grande de estar além
das coisas terrenas, fugir da
transcendência clara e límpida...

Existe algo de misantropia
falência múltipla de sentimentos
uma sensação de grande decadência,
monólogos de uma alma frágil,ferida.

Na minha contemplação ao céu
encontrei um ser pequeno esguio
e sereno,como se supõe a alguns
seres superiores... aos anjos.
Em suas mãos pequeninas,objetos
diminutos, imperceptíveis...
de certa nada muito valioso,
mas eles os seguravam como
se fosse um pequeno tesouro.

Lembrei-me de certas palavras
que um dia ouvi do meu saudoso pai.
Não julgue infantil a terna alegria ou
o suave contentamento, no nobre e sutil
sonhar de uma criança...
Seu grande exército oculta o infinito...

Esse meu peito aberto, que dói... dói
a grande ferida invisível
a dor e a cicatriz atroz,
prendem-me as fatídicas e caóticas
estradas qu terminam sempre na
minha mais só e completa solidão.

Continuo buscando em mim
o que tanto procuro e não encontro.
Algumas vezes, recolho-me ao meu casulo
e procuro vencer os meus anseios
ao me recordar dos teus longos beijos...

Foram muitos anos para esquecer,
para apagar da memória o meu padecer.
Sinto o medo assaltar meus instintos.
Reclamo e perjuro esse cruel destino
que me faz viver nesse desatino...
Escondendo-me atrás dos meus medos
eu perdi você...

Quantas vezes me pego pensando em
como consegui sobreviver sem você
amargando dores e saudades,
e como vivo sem tua ternura e carinho!...
E me pergunto se continuarei a ser
a tua sombra?

Algum dia terá fim este sofrimento?
Deixa-me ir livre ao teu encontro...
ou ensina-me a ser forte, a combater
esses impetuosos medo,quando a noite
chega de mansinho,trazendo com ela
todos os meus pesadelos!
Será que foi esse os objetos pequeninos
que vi nas mãos dos entes superiores?

Procuravam no silêncio me infundir a
coragem de seguir em frente...
me transmitir a força..o discernimento
a compreensão da vida que sufoco,
ao remexer nas feridas,nas sequelas
triturando minha alma, fazendo-me
morrer pouco a pouco...

Ou simplesmente me sinalizavam
a voltar a orar e buscar nas preces
o conforto para esse coração doente...
me faziam sinais imperceptíveis
dizendo volte a viver com serenidade
cumprindo seu caminho que lhe foi
determinado,pelo Pai...
aprenda a obedecer para saber
sobreviver, mais serena... mais feliz!
Sem deixar as mágoas destruírem você
miseravelmente... lentamente.

Vitória - E. Santo - 27/05/2007
www.vidatransparente.com.br

 

Fundo Musical: Smoke Gets In Your Eyes
(Alto Sax Transcription) - David Sanborn