Meu Natal inesquecível

       Quando criança, lá pelos meus oito anos, minha mãe me levava à Missa do Galo, missa celebrada na véspera de Natal, à meia-noite. O trajeto até a igreja era feito a pé. Não caminhá-vamos mais de quinze minutos, pela rua principal do bairro. O que me deixava imensamente feliz: ser conduzida pela mão firme de minha mãe.

       Eu via em revistas, meias vermelhas de lã, penduradas em janelas, com presentes deixados pelo Papai Noel, na manhã do Natal. Nunca tive a tal meia e nem uma janela onde a meia pudesse ser pendurada; a janela do quarto, onde minhas irmãs também dormiam, feita de duas folhas, madeira já gasta pelo tempo, com alguns buracos, fechada apenas por uma tramela presa em enorme prego enferrujado. Não tive a tão sonhada árvore de Natal, enfeitada com bolinhas verde, azul, vermelha e a estrela na ponta, para que o presente fosse colocado debaixo dela. E muito menos a chaminé por onde o Papai Noel desceria.

       Com o passar dos anos, fui entendendo a realidade da mi-nha família e queria uma vida  com mais conforto quando eu crescesse e pudesse trabalhar. E prometi a mim mesmo, aos treze anos, que só me  casaria quando tivesse terminado os es-tudos; eu seria professora, teria  minha classe e teria condi-ções financeiras; e quando viessem os filhos eu faria tudo dife-rente.

       E... aconteceu tudo como eu sonhara e planejara.

       Minha primeira gravidez corria bem, eu lecionava em três escolas, só sentia enjoo, às sextas-feiras quando descia uma serra toda cheia de pedras para dar aulas de inglês. Eu tomava remédio para enjoo e ficava com muito sono. De resto, o pré-natal, o exame de sangue em jejum, a cada dois meses, por eu ter sangue do tipo A negativo, a alimentação, o enxoval do bebê, tudo eu tinha em ordem.

       Véspera de Natal, fiz faxina no meu quarto, onde o berci-nho também se encontrava; passei lustra móveis e tencionava descansar,  quando senti uma dor muito forte nas costas, mais ou menos às dezessete horas. Imaginei que a dor fosse resulta-do do esforço com a limpeza e organização.

       Fiquei tranquila...

       Desci até o centro do meu bairro, comprar chinelos, pois os sapatos não cabiam pelo inchaço dos pés. Então as dores aumentaram;  voltei para casa de taxi. Daí em diante as dores aconteciam a cada cinco minutos. Fui para o hospital, e às duas horas e cinco minutos, do dia de Natal, meu filho nasceu. O parto foi normal e eu estava muito feliz, por ganhar o melhor presente que alguém possa imaginar. Fui duplamente abençoada no dia de Natal.

       Dia 25 de Dezembro de 1981, Rodrigo veio ao mundo.

Marinez Stringheta (Marapoeta)
Botucatu/SP – sexta-feira

01h52min do dia 27 de novembro de 2009

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