Era um jovem rapaz que tinha passado toda
a sua vida naquela ci-dadezinha de interior, perdida no mapa, esquecida pelos milhares de habitantes
das grandes metrópoles e suas vidas agitadas.
Ao término da lida no roçado, gostava de aproveitar os fins de tar-des
para ouvir músicas e cantarolar composições próprias, num cantinho particular
à sombra de um Pinheiro, na praça da cidade.
E num dia desses em que seguia com sua vida sossegada,
passou por ele um grande empresário do ramo artístico, vindo da capital, que
estava na cidade devido a um imprevisto com seu carro, du-rante uma viagem de negócios.
Intrigado por ter observado durante aquela semana o menino repetir aquela
coisa de sempre estar à sombra do Pinheiro, canta-rolando sozinho, tomou a
decisão de acabar de vez com aquele mistério.
Já estava tão estressado por
causa do imprevisto com seu carro, que aquilo o fazia sentir mais irritação ainda.
Precisava fazer algo!
Aproximou-se e foi logo tomando sua atenção:
- Menino!
Surpreso com a abordagem repentina, o jovem virou-se rapida-mente,
e procurou se recuperar do susto para atender ao impor-tante homem.
- O que você tá fazendo aí?
Tá falando sozinho?
- Não, senhor. – respondeu-lhe educadamente, como os pais sem-pre
lhe orientavam fazer.
- Então, o quê?
- Eu estou fazendo música.
O homem franziu as sobrancelhas, mais intrigado ainda.
- Fazendo música?
Mas como assim?
Que instrução você tem pra fazer música?
Você fez curso?
- Não, senhor.
Eu só vou na escola, aprender a ler e escrever. E fazer conta tam-bém.
- Mas então como é que você pode fazer música, se nem tocar ins-trumento você toca? – o homem perguntou grosseiramente.
O menino parou alguns segundos e sentiu a música do seu sonho maior entoar dentro de si.
- Eu toco... No meu coração, sabe?!
O homem ficou surpreso.
Desarmou-se.
Mudo, parado, diante daquele
jovem rapaz, que agora consultava suas anotações trazidas no bolso de sua camisa tão simples, conti-nuando em seguida a cantarolar à vida.
Aquela foi a primeira das muitas vezes em que o menino se viu na necessidade de afirmar enfaticamente o seu sonho e o seu poten-cial para alcançá-lo.
O que o fez colher, no futuro, o prestígio de ser
um dos maiores compositores do país, tendo suas composições gravadas
pelos no-mes mais importantes da música; e por diversas vezes estando entre os títulos mais pedidos nas paradas de sucesso.
Do que é que precisamos para realizar os nossos sonhos?
Luta, perseverança, acreditarmos neles, concretizá-los primeiro em nosso coração, para
um dia estarem diante de nossos olhos e apalpáveis ao toque das mãos.
Dificuldades?
Uma estrada inteira para trilhar?
Todos nós enfrentamos isso.
Não é isso que vai impedir os nossos sonhos de se tornarem reais!
Talvez hoje algum sonho seu, algum sonho meu, esteja nesse mo-mento como os sonhos que aquele menino cultivava sentado à som-bra do Pinheiro:
seguindo dentro de nós, dia-a-dia, mantendo nossa esperança, mantendo nossos dias coloridos, tocando a sinfonia da certeza de que podemos atingi-los,
independente dos pormenores que alguns possam apontar.
Eles querem acontecer!
São parte de nós!
Quem somos, e quem vamos nos tornar!
O menino estava na estrada de seu sonho, dando os primeiros pas-sos,
contornando os obstáculos e seguindo em linha reta para onde queria chegar.
Se um menino que compõe com um instrumento mais profundo do que
o violão (o próprio coração!) se torna um compositor de suces-so nacional, que dirá de nós!
Sim, fomos feitos para fazer história!
Os brutos e os mais ríspidos ficaram perplexos e mudos, em sua ig-norância e afronta, diante do triunfo do jovem sonhador que fa-zia músicas de
um modo todo particular.
Assim será conosco também!
Porque não importa se sabemos tocar ou não!
Importa é a dimensão que damos aos nossos sonhos!
Nunca deixe de sonhar! Não importa se você toca ou não,
importa a dimensão que você dá ao seu sonho!
Jacqueline Collodo Gomes
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