Colaboração enviada pela amiga Aliene Santos em 26/10/2012

 

No Tempo da Minha Infância

Ismael Gaião 

 

No tempo da minha infância nossa vida era normal.
Nunca me foi proibido comer muito açúcar ou sal.
Hoje tudo é diferente sempre alguém ensina a gente que
comer tudo faz mal.
Bebi leite ao natural da minha vaca Quitéria e nunca fiquei de
cama com uma doença séria.
As crianças de hoje em dia não bebem como eu bebia pra não
pegar bactéria.
A barriga da miséria tirei com tranquilidade, do
pão com manteiga e queijo hoje só resta a saudade.
A vida ficou sem graça não se pode comer massa por causa da obesidade.
Eu comi ovo à vontade sem ter contra indicação.
Pois o tal colesterol pra mim nunca foi vilão.
Hoje a vida é uma loucura dizem que qualquer gordura nos
mata do coração


Com a modernização quase tudo é proibido.
Pra tudo tem uma Lei que nos deixa reprimido.
Fazendo tudo que eu fiz hoje me sinto feliz só por ter
sobrevivido.
Eu nunca fui impedido de poder me divertir.
E nas casas dos amigos eu entrava sem pedir.
Não se temia a galera e naquele tempo era proibido proibir.
Vi o meu pai dirigir numa total confiança.
Sem apoio, sem airbag sem cinto de segurança.
E eu no banco de trás, solto igualzinho aos demais, fazia
a maior festança.
No meu tempo de criança, por ter sido reprovado ninguém ia
ao psicólogo, nem se ficava frustrado quando isso acontecia,
a gente só repetia até que fosse aprovado.
Não tinha superdotado nem a tal dislexia.
E a hiperatividade é coisa que não se via.
Falta de concentração se curava com carão.
E disso ninguém morria.

Nesse tempo se bebia água vinda da torneira de uma fonte
natural ou até de uma mangueira.
E essa água engarrafada que diz-se esterilizada nunca entrou
na nossa feira.
Para a gente era besteira ter perna ou braço engessado,
ter alguns dentes partidos ou um joelho arranhado.
Papai guardava veneno em um armário pequeno sem chave
e sem cadeado.
Nunca fui envenenado com as tintas dos brinquedos.
Remédios e detergentes se guardavam, sem segredos.
E descalço, na areia eu joguei bola de meia rasgando as
pontas dos dedos.

 

Aboli todos os medos apostando umas carreiras em carros
de rolimã sem usar cotoveleiras.
Pra correr de bicicleta nunca usei, feito um atleta,
capacete e joelheiras.
Entre outras brincadeiras brinquei de carrinho de mão,
estátua, jogo da velha, bola de gude e pião, de mocinhos
e cowboys e até de super-heróis que vi na televisão.
Eu cantei Cai, Cai Balão, Palma é palma, Pé é pé, Gata Pintada,
Esta Rua, Pai Francisco e De Marré.
Também cantei Tororó. Brinquei de Escravos de Jó.
E o Sapo não lava o pé. Com anzol e jereré.

 

Muitas vezes fui pescar e só saía do rio pra ir pra casa jantar.
Peixe nenhum eu pegava mas os banhos que eu tomava dão
prazer em recordar.
Tomava banho de mar na estação do verão quando papai nos levava em cima de um caminhão.
Não voltava bronzeado mas com o corpo queimado parecendo
um camarão.
Sem ter tanta evolução o Playstation não havia e nenhum
jogo de vídeo naquele tempo existia não tinha vídeo cassete
muito menos internet como se tem hoje em dia.

O meu cachorro comia o resto do nosso almoço.
Não existia ração nem brinquedo feito osso.
E para as pulgas matar nunca vi ninguém botar
um colar no seu pescoço.
E ele achava um colosso tomar banho na mangueira ou
numa água bem fria debaixo duma torneira e a gente
fazia farra usando sabão em barra pra tirar sua sujeira.

 

Fui feliz a vida inteira sem usar um celular.
De manhã ia pra aula mas voltava pra almoçar.
Mamãe não se preocupava pois sabia que eu chegava
sem precisar avisar.
Comecei a trabalhar com oito anos de idade, pois o meu pa
me mostrava que pra ter dignidade o trabalho era importante
pra não me ver adiante ir pra marginalidade.
Mas hoje a sociedade essa visão não alcança e proíbe qualquer
pai dar trabalho a uma criança.
Prefere ver nossos filhos vivendo fora dos trilhos num
mundo sem esperança.

A vida era bem mais mansa, com um pouco de insensatez.
Eu me lembro com detalhes de tudo que a gente fez, por isso
eu tenho saudade e hoje sinto vontade de ser criança outra vez

***




Fundo Musical: Atirei o pau no gato

Texto recebido do Roberto Fraga Ilustração: Aliene Imagens: Internet
Assinatura: Presentinho da Cris* - Midi: Atirei o Pau no Gato
 
 
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