Honrada e feliz, por caminhar ao lado da sua inspirada poesia,
agradeço ao nobre Poeta Martinez, o carinho da reedição desta peça,
uma bela recordação poética de 2008.

Grata e carinhosamente

Carmo Vasconcelos

 

  BEBO!
José Geraldo Martinez

 
PÕE AÍ MAIS UMA TAÇA!
Carmo Vasconcelos


Bebo das manhãs orvalhadas,
das noites enluaradas...
Das lembranças de alguém,
da saudade sem fim...


Põe pra mim mais uma taça
nessa mesa de memórias!
Beberemos das estórias
do amor que vem e que passa!

Alcoólatra inveterado
das recordações de um tempo...
No cálice das horas,
bebo na solidão de mim!

Também eu já sou viciada
nas lembranças que perduram;
estilhaços que me furam
tal uma adaga aguçada!

Bebo os beijos molhados,
nossos corpos suados,
os segredos não confessados...

Bebo as noites de paixão
nossos corpos enlaçados;
o bater do coração
em gemidos murmurados...

Nossa cama,
ninho de amor comungado...
Bebo boêmio e perdido
o nosso amor acabado!

Nosso leito desmanchado
é nuvem que já se esvai
num arco-íris deslaçado...
Bebo da chuva que cai!

Bebo as auroras,
as partidas e chegadas!
Bebo de mim a própria alma,
em suaves tragadas...

Bebo os beijos de jardim,
noites de amor perfumadas;
bebo as carícias tatuadas
no que inda resta de mim...

Teu riso, teu abraço...
Teus olhos e teu carinho!
Bebo teu colo, meu regaço...
Meu eu todinho!

Dessa tua boca que espreita
a minha boca molhada,
bebo a lágrima chorada
na mágoa que em mim se deita.

E de beber tanto...
Vazo saudade pura e, se não bastasse,
bebo o desencanto de minha alma nua!

E assim de tanto beber
beijos secos, boca em prantos,
fina-se a alma a derreter
no fogo dos desencantos.

Sou todo lágrimas!
Bebo delas, de mim...
Todo um rio de águas passadas,
torno-me deserto sem fim...

Faço-me barcaça à beira
dum cais largado ao abandono,
bebo a sorte marinheira
dum amor que não tem dono.

Bebo a última gota de esperança,
de uma volta possível!
Bebo desesperado as lembranças
 do nosso adeus...

A minha taça já geme
despejada de lembranças...
Verte um cálice de esp'ranças
no resto que inda em nós freme!

Até virar pó a nossa história
e sepultar em minha memória
o nosso passado...
Todos os sonhos meus!

Bebamos, mas sem chorar...
Ao futuro que há-de vir-nos!
A um amor que há-de sorrir-nos!
Ao sonho que há-de voltar!


"O único Paraíso que não podemos
ser expulsos é o da Recordação."
( A.D.)




www.recantodasrosas.fateback.com/leda_yara.htm
www.saladepoetas.eti.br/leda.htm

Som: EL DIA EN QUE ME QUIERAS
(Carlos Gardel/Lepera - Execução: Violinos de São Paulo)

Arte final por Lêda Yara
 
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