A PALAVRA

Carmo Vasconcelos

Seja escrita ou falada, seja rimada ou cantada,
a palavra é milagrosa.
Tão milagrosa que a gente a manipula e a sente
como arma poderosa

Ela é desprezo e amor, estrume, pólen e flor,
estrela, lama e chão;
pacifismo, violência, pornografia, inocência,
praga e também oração.

É perfídia, honradez, abnegação, mesquinhez,
raiva, beijo e ciúme;
também é água da fonte, maré, abismo e ponte,
degelo, paixão e lume.

Por vezes é alimento, é sol, chuva, fermento,
que sustenta e aduba;
por outras é sofrimento, luxúria, vício, tormento
e açoite que derruba.


Com ela o mundo se espanta por ser satânica e santa,
bálsamo e droga infecta;
guilhotina e perdão, liberdade e prisão,
vómito de boca abjecta.

Pode ser batalha ou trégua, conforme a bitola e régua,
do espelho da consciência;
também é rosa e espinho, cardo, jasmim e carinho,
escravidão, independência.

Ela é freira, meretriz, pântano, pomar, raiz,
pureza e poluição;
é profana e sagrada, afago e chicotada,
desavença e comunhão.

Mas para mim é um fogo, e um mar onde me afogo,
eternidade e momento;
êxtase, estupefacção, poema, contemplação,
bailado do pensamento.

E para todo o Poeta
a palavra é a dilecta, eterna amante fatal !
E o Poeta quando parte, só deixa como estandarte
a sua amante imortal !

***
Lisboa/Portugal


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O BAILADO DAS PALAVRAS
Humberto Soares Santa

Vão bailando as palavras no papel
Em riscos bem traçados, ondulantes.
Umas deslizam doces como o mel,
Outras correm, nervosas, petulantes.

Desde o início, o princípio era a PALAVRA,
No meio está o HOMEM, no fim DEUS.
O pulsar da caneta dita e lavra
A rota da palavra, rumo aos Céus.

Na escrita uma palavra é riscada
Quando entra numa frase irreflectida.
Perigosa é a palavra que falada


Pode modificar toda uma vida.
Toda a palavra ao ser vocalizada,
Só volta como eco, à partida !


***
Cotovia-Sesimbra


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