Um brasileiro na África
 
Recebi em 06/03/2006
 

Se desejar ouvir o Fundo Musical após a Leitura da Poesia,
no final tem um Link para Abrir a Música que é Cantada.


Em Julho/2003, uma erupção

destruiu um local que me deixou lindas recordações...
Agora, às vésperas do lançamento do livro
UM BRASILEIRO NA ÁFRICA, lembro-me
desse episódio...
Ósculos e amplexos,
Marcial

AVENTURAS NA ÁFRICA
Marcial Salaverry

Este não é um capítulo de 
Um Brasileiro na África que, fugindo de alguma mamãe hipopótamo furiosa, apareceu aqui.

Foi algo acontecido um bom tempo depois de eu ter voltado do Congo, mas atingiu diretamente minhas recordações.

Simplesmente, mais ainda do que as mazelas provocadas pelos governantes do Congo que se esmeram em cometer barbaridades, mais ainda do que as atrocidades que o próprio povo comete, em suas ridículas guerras raciais, vi algo que me entristeceu muito.

Vi a Natureza cometer algo que pode ser chamado de...

E um crime cometido pela Natureza é realmente entristecedor.

Talvez tenha sido apenas uma reação, ou um aviso para os homens de que também ela sabe punir e se defender.

Para quem ler o livro UM BRASILEIRO NA ÁFRICA, vai ver que, no capitulo que fala sobre a estadia no Kivu, quando narrei a travessia do Lac Kivu, e tentei descrever as belezas da cidade de Goma, ali era um pequeno pedaço de paraíso, encravada no meio da selva africana.

Pois bem, a Natureza resolveu acabar com essa beleza...

Um vulcão, que estava sossegado há centenas de anos, resolveu acordar, e resolveu acabar com essa bela cidade... com essa bela região.

Pelo que vi na televisão, pouco ou nada restou dela para confirmar o que houvera dito...

Goma praticamente não existe mais.

O Lac Kivu onde havia depósitos de gás metano, o que proporcionava um movimento semelhante às ondas do mar... não deve mais ser o mesmo.

Aquela natureza exuberante... a mata verdejante... as belas mansões que existiam às margens do lago... desapareceram no caminho da lava fumegante.

Pelo que me foi dado ver, a linda Avenue du Lac com as residências de veraneio e seus maravilhosos jardins, cuidados com tanto esmero... também foi engolida pela lava.

E as maiores vítimas, os habitantes de Goma, justamente os Intore, povo de maior cultura do Congo, e os de melhor índole, sofreram prejuízos incalculáveis.

Os números oficiais falam em 45 mortos...

Como sempre, procuram tapar o sol com a peneira.

Do jeito que ficou a cidade, da maneira como a lava varreu tudo... é impossível que tenha sido apenas essa a quantidade de desaparecidos.

Bom seria se reais fossem esses números.

Não creio.

Bem... são coisas da Natureza.

O homem comete crimes muito maiores contra ela, e de vez em quando ela resolve dar um troco, e mostra sua força... mostra que também sabe destruir. 

Não é tão cruel quanto o homem, que destrói deliberadamente, mas também sabe fazê-lo.

Lamento apenas que uma das minhas mais caras recordações... agora seja apenas uma recordação mesmo... e o mais chato, é que nessa viagem a Goma, ao invés de fotos, tirei “slides”, e estes, sofreram a ação do tempo, e se estragaram...

Tenho apenas que fechar os olhos, e lembrar de quando, às margens do Lac Kivu, “matei” a saudade de Santos, ouvindo o marulhar de suas águas, movidas pelo gás metano que agora fez tudo isso.

Posso também recordar a visão da janela do quarto no Hotel Edelweiss, vendo a paisagem magnífica que se descortinava.

E que agora não existe mais.

Guenta, coração...

Bem, desculpem-me esta “explosão melancólica”, mas foi mais forte do que eu...


Ao escrever em julho/2003 o fiz com a mesma melancolia que agora permeia meu coração.

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