Um brasileiro entre os Pigmeus do Kisangani - Parte 01
 
Recebi em 12/08/2022
 

Certamente os pigmeus do Kisangani formam uma população totalmente suigeneris na África...
Foto do resultado final da caçada ao elefante, que narro a seguir...
Vale a pena ver...e vale a pena lembrar...
Ósculos e amplexos,
Marcial

Um brasileiro entre os Pigmeus do Kisangani - Parte 1

OS PIGMEUS DO KISANGANI
Marcial Salaverry

Inicialmente, é preciso definir o que são os "Pigmeus”.

A princípio, pode-se pensar que são anõezinhos.

Acontece que, na verdade, eles são é baixinhos, mas não anões.

Explica-se melhor, esclarecendo que eles têm o corpo de uma pessoa de estatura normal, apenas suas pernas é que são curtas, dando-lhes esse aspecto, digamos incomum.

Sua pele é mais clara do que os demais africanos, assemelhando-se mais aos bosquimanos, outra etnia bastante curiosa, mas que não habita o Congo, portanto não tive contato com eles.

Os pigmeus vivem exclusivamente da caça, e "daquilo que encontram".

São exímios caçadores e sempre encontram o que precisam para seu sustento.

Quando não conseguem caçar, subsistem com os recursos naturais da floresta, ou mesmo com o que encontram nas plantações dos demais africanos.

Estes, curiosamente, não se revoltam quando os pigmeus "colhem" o produto de seu trabalho, pois consideram-nos como os "donos da terra" e com direitos sobre elas.

Além do que, os pigmeus colhem exclusivamente o necessário para a subsistência, nunca abusando da boa von-tade dos anfitriões.

Esse sistema de vida faz com eles sejam nômades.

Nunca tem parada fixa.

São eminentemente pacíficos e nunca são atacados pelos demais africanos.

Apenas o colonizador que não aceitava "droit sur terre" deles, e procurava defender suas plantações do que eles chamavam "pilhagem dos pequenos".

Isto muitas vezes causou problemas sérios para eles.

Os demais africanos sempre defendiam os direitos dos pigmeus.

Claro, que devido ao nomadismo, não faziam reservas alimentares de nada, sempre vivendo o dia a dia.

Em vista disso, sempre precisavam estar em atividade, procurando o alimento.

Existe um provérbio pigmeu que diz: Um pigmeu com fome é um pigmeu preguiçoso.

Ou seja, não foi arranjar sua comida...

Uma grande diferença entre os pigmeus e os demais povos africanos, é o sistema familiar deles.

Vivem em pequenas comunidades de 6 a 10 famílias no máximo, nunca excedendo 100 pessoas.

Como vivem se deslocando, fica mais fácil em pequenos grupos.

São excelentes caçadores.

Com seus pequenos "arco e flecha", tem pontaria mortífera, conseguindo abater as peças com uma precisão incrível.

Quando a caça é muito boa, sempre fazem trocas com os demais.

Chega a ser muito curioso verificar que, se as demais populações africanas vivem se digladiando e se matando, o comportamento delas com os pigmeus é totalmente diferente, já que eles têm livre transito entre todas as demais tribos.

Estejam onde estiverem, os pigmeus sempre serão bem recebidos por todos, e, atualmente até pelos europeus que, uma vez findo o ranço colonialista, entenderam que precisavam viver como os africanos, ou então voltar para casa.

E muitos europeus, realmente aprenderam a amar a África, e nunca mais quiseram sair de lá.

Na minha passagem pela região de Kisangani, mais especificamente no Itouri, tive oportunidade de acompanhar os pigmeus numa caçada a um elefante.

Aqui cabe uma pausa para meditação.

Pena que o filme com as fotos tiradas nessa viagem foi inutilizado por uma patrulha militar atrabiliária (falarei mais adiante), pois formávamos um quadro digno de nota.

Entre os pigmeus, uma figura de 1m90 de altura, quase que não chamava a atenção...

Bem, imaginem a cena o elefante placidamente comendo suas folhagens, e os minúsculos pigmeus se aproxi-mando.

À distância, acompanhava a cena, um tanto quanto incrédulo quanto ao resultado da caçada.

Perguntava-me que poder teriam as minúsculas setas daqueles baixinhos contra aquele monstro.

De repente, um deles, conhecido como "grande caçador de elefantes".

Achei interessante nosso amigo Kilolo, com 1m50 de altura, ser conhecido por aquele apelido.

Repentinamente, vi surpreso o porque desse apelido.

Kilolo, sorrateiramente chegou bem perto do elefante e, empunhando com firmeza sua pequena lança, atirou-a com precisão certeira, contra a pata traseira do "bichinho", bem na dobra do joelho, o que tirou o equilíbrio do enorme animal, que desabou por terra.

Imediatamente, com a rapidez de um raio, Kilolo com outra lança, furou os olhos do elefante.

Seguindo uma estratégia quase militar, os demais componentes do grupo, atiraram-se contra a tromba do ele-fante, cortando-a com certeiros golpes de "machete”.

Sem o apoio traseiro, cego e sem a tromba, o elefante ficou completamente indefeso.

O restante da cena, foi preciso ter um estômago um pouco forte para assistir, pois enquanto o elefante ainda se debatia, eles esperavam o "mais idoso" do grupo, pois apenas ele poderia dar o golpe final.

Com sua lança, abriu o ventre do bicho e, quando o ar parou de escapar pela abertura, indicando que o elefante estava morto, os demais praticamente "entraram" dentro da carcassa do bicho, começando a retirar as vísceras, que eram comidas ali mesmo ainda quentes...

Delicadamente recusei a parte que me cabia.

Convenhamos seria demais para um brasileiro doido, mas nem tanto...

O grande pitéu, que seria  a tromba, foi levada para a aldeia, para ser entregue com "pompa e circunstância", ao conselho de anciões.

Apenas os mais velhos tinham direito a saborear essa fina iguaria.

Há mais coisas a serem ditas sobre este povo tão original...

Como veremos a seguir...



 

 
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