Recebi em 10/10/2010

A tristeza de Nini

O mundo enfeita-se de cores e formas definidas pela natureza.

Em regra geral, os seres que nele habitam devem conformar-se com suas condições naturais.

Tudo se faz em harmonia, mas alguns deslizes são acontecidos, as chamadas mutações.

A partir destas afirmações, vamos contar a história de Nini, uma joaninha muito triste, mas que não expunha a ninguém o motivo de sua tristeza.

Havia um lindo jardim, tão lindo quanto os pintados nas telas de Monet.

Muitas e muitas flores, de variadas cores, centenas de aromas.

Era tudo tão colorido que o olfato e a visão mal tinham tempo de associarem-se, para informar ao cérebro tanta beleza.

Mas nem a formosura do local, trazia encantamen-to para Nini.

Passava seus dias sob a folha de Monstera que era sua morada.

Chorava tão baixinho, que os demais animais que por ali passa-vam não percebiam seu pranto.

Perto dali, existia um velho casebre abandonado, e nele vivia uma família de morcegos.

Os dois “meninos-morcegos” eram bastante levados, mas tam-bém possuíam bom coração, seus nomes – Zico e Zica.

Não é à toa que usam a noite para procurar alimento.

Nossos amiguinhos gostavam de aventuras e atender às reco-mendações de sua mamãe não estava em seus planos.

_ Meus filhos, não saiam durante o dia! – dizia ela.

_ Sim, mamãe! _ repetiam os meninos com os dedos cruzados às costas.

Assim que mamãe-morcego pendurava-se nas vigas do teto para dormir, os safadinhos tomavam o rumo da rua.

Nesta manhã voaram um bocadinho, mas logo ouviram lamentos vindos do jardim abaixo deles.

_ Que será isso? – perguntou o menino morcego à sua irmã.

_ Zico, parece que alguém está a chorar!

_ É verdade, Zica!

Agora, estou a ouvir melhor!

Vem ali, daquela planta com as folhas furada.

_ Estou vendo, vamos até lá!

Assim,  os dois meninos desceram  até a planta onde morava Nini.

Ela estava inundada em lágrimas.

Seus olhos mal se abriam de tão inchados.

Os morceguinhos aproximaram-se despacito.

Eles achegaram-se à folha, onde notaram a presença de Nini.

A quantidade de lágrimas que escorriam de seus olhos era tama-nha, que ambos precisaram sacudir suas asas, banhadas por elas.

_ Porque choras? - perguntou Zica, compadecida do sofrimento da joaninha.

_ Eu... Eu... – continuou a soluçar.

_ Pare com este choro! – disse Zico - _ Nós queremos te ajudar!

O morceguinho estendeu um lenço para a joaninha que secou suas lágrimas.

Alguns minutos depois, ela já estava recomposta para conversar com os meninos.

_ Agora que já estás calma, conte a nós, qual é o problema que te aflige.

_ Olhem para mim!

Eu sou toda preta! – exclamou chorosa.

_ Grande coisa! – disse Zico _ Nós também somos!

_ Mas vocês são morcegos!

Eu sou uma joaninha e nasci sem as bolinhas vermelhas!

Os dois meninos-morcegos compadeceram-se de Nini.

Já haviam visto outras joaninhas com suas lustrosas asas pretas repletas de bolinhas vermelhas.

_ Já sei como podemos resolver isso! _ exclamou Zico.

_ É verdade!?

_ Um sorriso surgiu no rosto de Nini.

Será que finalmente ela poderia ser feliz como suas compa-nheiras?

_ Espere aqui, Nini!

Eu e minha irmã Zica vamos sair um pouquito, mas voltaremos!

_ Até breve, meus bons amigos! – disse mais feliz.

Os dois morceguinhos voaram até a cidade.

Lá procuraram a livraria de Dona Traça.

Fizeram algumas compras e retornaram para junto de Nini.

_ Que bom que vocês voltaram!

Fiquei com medo que tivessem feito uma falsa promessa para mim!

Ora, Nini!

Amigos não atraiçoam amigos!

Nós empenhamos nossa palavra e aqui estamos para te ajudar.

_ Feche bem os teus olhos! _ disse Zica.

_ Só abra, quando nós mandarmos!

_ Farei o que dizem!

A joaninha Nini cerrou seus olhos.

Usou toda força que tinha para ter certeza de que não estava sonhando.

Os meninos começaram a trabalhar na carapaça preta de joa-ninha.

Uma hora depois, Zica segurava um grande espelho em suas mãos.

_ Pode abrir seus olhos, Nini! – disse Zico.

A joaninha abriu lentamente as pálpebras.

Tomou um susto.

Diante do espelho, vislumbrou sua carapaçã, antes preta com centenas de bolinhas vermelhas.

_ Milagre! - exclamou feliz, _ Como vocês conseguiram isso?

_ Muito simples! – falou Zico _ Passei cola Super Bonder em suas asas e Zica jogou confete vermelho sobre a cola.

Afinal, é carnaval!

_ Que lindo!

Eu estou muito feliz, meninos!

Vocês dois serão meus amigos para sempre!

Abraçaram-se como verdadeiros amigos o fazem.

E partiram.

_ Zico, tu notaste algumas coisa?

_ O que exatamente, Zica?

_ Nini, está tão feliz que mal se apercebeu...

_ De que, meu irmão?

_ Ela é preta com bolinhas vermelhas...

_ É mesmo!

Joaninhas são vermelhas com bolinhas pretas!!!!

É maravilhoso termos o poder de ajudar a um amigo que sofre.

Denise Severgnini


 

 
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