O muro de avencas

Recebi em 20/03/2018


Eu olhava fascinada para o muro de avencas, forte, magistral e imponente, no fundo de nossa casa.

Acima do muro, do alto dos meus cinco anos, eu podia ver uma pequena parte da casa da Dona Iria, minha amiga querida e ferrenha defensora da garotinha levada que eu fui.

Ficava na porta da cozinha olhando as avencas.

Como é que elas foram parar lá?

Não foi mamãe quem as plantou...

Mesmo que ela subisse numa escada enorme ele não alcançaria os buraquinhos de onde elas nasciam!

O fascínio pelo que é bonito, correto e bom nasceu comigo.

Não falo de peças, quadros ou casas imponentes não... e sim da beleza que a natureza nos dá de presente.

Mamãe trabalhava muito e o fogão de lenha ficava a alguns metros do muro de avencas.

O espaço entre o muro de terra forte e verdinho era mais ou menos de meio metro.

Do outro lado da casa, uma pequena horta.

Eu adorava o cheiro da lenha queimando no fogão.

Mamãe passava roupas com a brasa que o fogão lhe dava, num ferro mais pesado que o braço dela.

Fazia pão de casa, hábito que minha irmã Cecília ainda mantém na família.

Hoje mamãe ganha os pães mas ainda passa sua própria roupa, com 84 anos.

Um dia ela aprendeu a fazer balas de coco, um tipo de puxa-puxa fantástico.

Com manteiga e outros ingredientes que eu não entendia, a bala ia formando uma fita enorme; de início de cor marrom... aos poucos ia tomando uma tonalidade prateada, lindo demais.

E eu olhando, fascinada.

Depois, nossa mãe as cortava cuidadosamente, depois de um trabalho exaustivo demais.

Quando acordávamos no outro dia, as balinhas estavam bran-quinhas como neve, deliciosas... mamãe nos dava algumas delas e levava o resultado de seu árduo trabalho para o bar do papai, onde éramos terminantemente proibidas de entrar, a não ser para levar alguns quitutes que mamãe enrolava num pano de prato bran-quinho e limpo.

Enquanto eu me lembro de tudo com saudade, gostaria demais de saber se o muro de avencas ainda existe... (continua...)

Domingo do início do horário de verão, 2009

Se soubessem como nos magoam certas coisas, jamais elas seriam sequer cogitadas.

Sunny Landrith
Enviado por Sunny Landrith em 18/10/2009
Alterado em 20/10/2011



 

 
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