O Terminal Rodoviário do Bairro IBES - Vila Velha - ES


O meio de transporte ao longo dos anos sofreu várias transforma-ções: inicialmente as pessoas iam a pé, depois utilizavam carros de bois burros e cavalos.

A tecnologia avançou, inventaram os automóveis e os trens.

Os bondes causaram grande revolução, mas em 1965, em Vila Ve-lha/ES, eles foram extintos.

Entraram em cena os ônibus: a Viação Alvorada atendia os municí-pios de Vitória a Vila Velha (nas laterais destes ônibus havia um de-senho que se parecia com as ondas do mar).

No Espírito Santo, o serviço de transporte coletivo era ineficiente, pois não solucionava à crescente demanda de passageiros: havia superlotação e o descumprimento dos horários.

Na década de 80 foi criado o Projeto Transcol com a ideia de atra-vés de terminais urbanos, interligar os cinco municípios da região metropolitana: Vitória (a capital), Vila Velha, Cariacica, Serra e Vi-ana (estes municípios também são chamados de "Grande Vitória").

A Companhia de Transportes Urbanos da Grande Vitória (CETURB–GV), empresa pública, foi fundada em dezembro de 1984, com o fim específico de conceder, planejar, contratar e gerenciar o Siste-ma de Transporte Público de Passageiros da Região Metropolitana da Grande Vitória.

Os terminais foram concebidos pela CETURB-GV, em termos de lo-calização estrutura e logística de funcionamento.

O terminal rodoviário é uma plataforma, com vários pontos de ôni-bus.

A principal utilidade é transportar passageiros de um bairro para o outro e para outros municípios próximos.

O usuário paga uma única passagem e pode trocar de ônibus nos outros terminais sem ter que pagar novamente.

Os ônibus azuis operam nas linhas bairro x bairro e bairro x termi-nal da região metropolitana e os de cor amarelo, rodam em Vitória e região metropolitana ligando terminal a terminal.

Em 1989, foram  inaugurados os primeiros terminais de integração, nesta sequencia: Carapina (Serra), Dom Bosco (Vitória), Itacibá (Cariacica) e Vila Velha. Em 1990, foi a vez do terminal de Laran-jeiras (Serra).

Em Vila Velha/ES, há outra empresa operadora do transporte cole-tivo, a Viação Sanremo, que recolhe os passageiros nos pontos de ônibus espalhados pelo município.

Foi decretada a desapropriação de dois terrenos que havia na rua onde moro,  no bairro IBES, no município de Vila Velha/ES, para ser transformado no terminal do IBES.

Os moradores ficaram descontentes, alegavam que aumentaria o número de violência nas redondezas.

Foi feito um abaixo-assinado, mas não adiantou: o projeto seguiu adiante.

O local escolhido eram dois terrenos: no primeiro havia muitas ár-vores (foram preservadas algumas), areal branco, grama e era todo murado; o outro, ao lado deste, havia uma casa de dois andares com jardim na frente.

Assim, no dia 08 de março de 1991, foi inaugurado o terminal do IBES com a presença de Sua Excelência, Sr. ALBUÍNO CUNHA AZE-REDO (governador do Estado), show musical, muita festa e discur-so.

Todos os terminais são muito semelhantes em sua arquitetura e or-ganização.

O terminal do IBES inicia suas atividades as 04h30 da manhã e en-cerra à meia-noite e poderá ser descrito como um imenso galpão cercado por grades de ferro, com três ruas paralelas e duas pla-taformas, onde nas mesmas dispõem de módulos onde se encon-tram os pontos de ônibus e os mini pontos comerciais, os quiosques, popularmente conhecidos como "barriquinhas", (dispos-tos de forma organizada e fiscalizada, vendendo vários tipos de ali-mentação); há aqueles que são contra a presença de tais estabele-cimentos, pois argumentam que ocupam espaço precioso, reduzin-do a liberdade dos passageiros de se locomoverem.

E é também o local onde transitam os usuários dos  ônibus.

Apesar das plataformas serem cobertas horizontalmente, quando chove  protege-se razoavelmente da chuva, pois ela surpreende por todos os lados e aparecem as inevitáveis poças de água.

Há duas lanchonetes, bebedouros, banheiros e telefones públicos.

O serviço de limpeza é realizado por uma empresa particular.

Ao lado da entrada do terminal, na esquerda, há um ponto de táxi, cuja rua chama-se "Mahatma Ghandi"; nos fundos, está a rua "Gua-poré"; na lateral esquerda, onde está a caixa d'água, há a rua "São Luís" (onde moro) e na direita, a rua "Godofredo Schneider".

Todo o dia entram passageiros com personalidades das mais varia-das possíveis.

O horário de maior movimento é de 06h30 às 08h00 da manhã (as pessoas estão indo trabalhar) e à tarde, de 18h00 às 20h00 (estão voltando para casa) e este  "vai e vem" constante de pessoas é o mais interessante no terminal: o ser humano com suas emoções e personalidades, seguindo cada um o seu destino.

Igualmente apreciável, são os embarques e desembarques dos pas-sageiros de acordo com o horário de cada ônibus, enchendo e esva-ziando os pontos de ônibus.

As ruas ao redor deste terminal são muito movimentadas, com grande fluxo de veículos, pois próximo dali está o Cartório Lean-dro, uma igreja/escola Luterana, oficinas mecânicas, bares, livra-ria de Quadrinhos/Jogos, etc. e vários moradores.

O motor dos ônibus (Vruuum!) com seu som ruidoso, às vezes inco-moda e  espalha por toda parte uma poeira engordurada, proveni-ente de óleo e fumaça.

Para a segurança deste terminal, a principio havia apenas os por-teiros que vigiam as entradas e saídas.

Depois um guarda da Polícia Militar permaneceu ali por aproxima-damente um ano.

Após o episódio da queima dos ônibus em 2004, a CETURB-GV con-tratou guardas armados, de uma empresa particular e há câmaras filmadoras: dispõe de dois seguranças nos horários de 08h00 às 20h00 e um segurança de 06h00 ás 08h00 e de 20h00 ás 08h00.

Este terminal é palco de acontecimentos interessantes, surpreen-dentes e inacreditáveis!

Era 18h00, abri a janela do meu quarto e vi uma multidão de pes-soas na sala reservada à "Policia Militar".

Notei que havia um homem com semblante irritado e que parecia ser o personagem principal, pois todos se dirigiam a ele.

Logo vieram duas viaturas da Policia Militar e após discutir acalora-da e e demoradamente todos se dispersaram.

Não entendi nada.

Um dos porteiros do terminal contou a meu pai que um senhor en-trou no terminal pela porta reservada aos idosos e aos profissionais que a lei autoriza o "passe livre", recusando-se a mostrar os docu-mentos que comprovassem o direito de passar por ali.

O policial o deteve e por fim, este cidadão se identificou revelando ser um policial civil.

Vejam o quanto os motoristas e cobradores são unidos: era um sá-bado, ás 15h00, num ônibus, uma policial queria que o cobra-dor consentisse que seu filho passasse por baixo da roleta, mas este não permitiu porque, segundo as  normas da empresa, crian-ças a partir de cinco anos devem pagar passagem.

Iniciou-se uma discussão, quando o coletivo aproximou-se do termi-nal do Ibes, ela pegou o celular e chamou uma viatura, notificando que foi desacatada e agredida.

Não demorou muito e chegaram os policiais e o acusado foi preso.

Os motoristas se revoltaram e iniciou-se uma greve em protesto.

Os demais motoristas ao entrar no terminal foram informados do que estava acontecendo.

Logo, o terminal e as ruas próximas ficaram repletas de ônibus pa-rados e os outros que vinham chegando pararam os veícu-los na rodovia Carlos Lindemberg, paralisando o sentido Vitória x Vila Velha, formando uma imensa fila de carros particulares para-dos.

Os passageiros eram abandonados no interior dos ônibus.

Às 18h00, dentro do terminal e nos arredores, havia uma multidão de pessoas; adolescentes choravam e tocavam a campainha das ca-sas para pedir para telefonar para seus familiares, pois os telefones púbicos estavam todos lotados com uma imensa fila.

Para piorar a situação, começou a chover.

Desfilaram neste cenário: a polícia, a tropa de choque, equipes de reportagens e reforços policiais.

Finalmente ás 20h00, o cobrador foi solto e então os motoristas voltaram as suas atividades.

Um assaltante (possivelmente amador ou desesperado), anunciou o assalto quando o ônibus estava entrando no terminal do IBES, logo o infeliz foi dominado pelos passageiros, sendo preso em seguida pela polícia.

Em 2001, foi inaugurado o terminal de Campo Grande (Cariacica).

Há um projeto para a criação de quatro novos terminais, nos bair-ros: São Torquato, Itaparica (Vila Velha), Jardim América (Cariaci-ca) e Jacaraípe (Serra).

Na noite de 20/10/2004, um homem entrou no terminal do IBES e matou, a tiros, um rapaz que era ajudante de pedreiro: o elemento veio por trás do outro, atirou à queima-roupa e fugiu.

Em 23/11/2004, dez ônibus foram incendiados na região metropoli-tana e Sua Excelência, Sr. Paulo Hartung, o governador do Espírito Santo, entrou em contato com os ministros da Justiça e da Defe-sa, pedindo ajuda de forças federais.

Dois aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), trouxeram soldados do Rio de Janeiro (provenientes do 26º Batalhão de Infantaria Para-quedista e do 1º Batalhão de Polícia do Exército) que garantiram a segurança de passageiros e dos ônibus nos terminais de Vila Velha e do IBES.

Juntos, atuaram nos terminais, garagens e no patrulhamento os-tensivo com quatro caminhões, ao lado da Polícia Militar.

Todos estavam armados com pistolas, fuzis ou com metralhadoras de mão.

Havia policiais dentro de todos os ônibus.

Os incêndios foram ação do crime organizado que age no Espírito Santo.

A presença dos soldados assustaram as pessoas: eles corriam de um lado para o outro, fazendo o reconhecimento do local e se posicio-navam perto das saídas e entradas.

Parecia que o município estava em guerra.

Os passageiros se sentiam mais seguros, porém ao mesmo tempo transmitia uma sensação de insegurança.

Em 03/2005, uma senhora passou mal, com crise epilética, no ter-minal do IBES, por sorte, estava passando uma enfermeira-chefe e prestou socorro.

Em 22/03/2006, ocorreu a manifestação de alunos em protesto ao "passe livre", solicitando passagens gratuitas em todo país.

Participaram inúmeros estudantes, de várias escolas.

No terminal do IBES, eles entraram pela portaria sem pagar a pas-sagem, fazendo um "apitaço" (com apito de jogo), picharam pare-des e alguns ônibus.

Em 04/2006, houve medição da pressão arterial no terminal do IBES e de Vila Velha, realizada por estudantes da Faculdade Sale-siana, dando prosseguimento a campanha da Sociedade Brasileira de Hipertensão, levando orientação e informações.

Houve uma manifestação: passageiros bloquearam a saída dos ôni-bus do terminal do IBES em protesto ao atraso de mais uma hora da linha 516. (T. Carapina / T. Ibes via Maruípe).

Greve de motoristas de ônibus é um dos fatos que se repetem de quando em quando.

Na paralisação dos motoristas em julho de 2006, os ônibus saíam dos terminais, mas eram forçados a parar durante o percurso.

Os pontos de ônibus ficaram cheios.

Somente um ônibus era liberado para cada região, de 30 em 30 mi-nutos.

No fim sindicatos e CETURB–GV entraram num acordo e tudo voltou ao normal.

De repente, ouve-se um estrondo! Buuum! Que susto! Parecia uma explosão. Terroristas? Não, furou o pneu de um ônibus...

E as  surpresas desagradáveis, principalmente quando se está com pressa?

Um ônibus da linha 518 (T. Carapina/ T. Ibes  via  Serafim Deren-ze), estava lotado e saía do terminal, o motor fazia um barulho estranho e quando ia entrar na rodovia Carlos Lindemberg, o motor parou.

Os passageiros ficaram contrariados, resmungavam, mas não tive-ram outra escolha, senão retornar para o terminal, de volta para a fila e esperar o próximo.

A Secretaria de Estado da Cultura, em parceria com a CETURB–GV, lançou no dia 01/09/2005, o "Projeto Circuito Transcol", que ofere-ce aos usuários dos terminais, apresentações de diversas modalida-des, como música, teatro,  manifestações populares, circo e dan-ça, que são realizadas sempre as quintas-feiras das 17h 30 às 19h00, simultaneamente nos seis terminais.

O objetivo é realizar oficinas - relâmpago para atrair o público pa-ra práticas artísticas e artesanais, colocando-o em convívio com os artistas capixabas e promover, assim, a cidadania e a interação por intermédio de atividades lúdicas.

Além de espetáculos musicais e folclóricos, são realizadas oficinas de artesanato e de caricatura, artes plásticas e grafite.

É uma distração para aqueles que aguardam o coletivo.

Levam um pouco de cultura e diversão para aqueles que não têm tempo, apesar de não atender a todos os gostos.

O terminal do IBES (e os demais terminais), pode ser comparado a uma pequena cidade, porém embora uma quantidade imensa de pessoas passem por ali diariamente, não há moradores... cada usu-ário deixa um leve rastro da sua passagem, que logo some para dar lugar a infinitos outros passos....

O bairro IBES ("Instituto do Bem-Estar Social do Espírito Santo"),  conjunto residencial construído em 1952; projetado com formato de uma flor (na verdade, forma a figura de um grande hexágono, com a Praça no centro), dividido em setores.

No setor Jerônimo Monteiro, residiam funcionários públicos e seus familiares; no setor Unidos da Vale, moravam empregados da Com-panhia Vale do Rio Doce (CVRD); no IAPC, pessoas ligadas ao co-mércio; os demais setores eram mais diversificados.

Em 1954, trezentos e cinquenta moradores receberam as chaves das casas.

Em 1955, foi construído o centro comercial, próximo à Praça Assis Chateaubriand.

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NOTA DE ESCLARECIMENTO:

Para escrever este texto, descrevi minhas experiências como mora-dora próxima ao terminal do IBES, elaborei um questionário e pedi que várias pessoas que trabalham neste terminal ou próximo a ele, respondessem.

Além disso, pesquisei na Internet para complementar as informa-ções, abaixo seguem os devidos créditos.

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FONTES CONSULTADAS:

*CETURB-GV. Projeto Transcol.
Acesso em 30/11/2006. Disponível em:
<https://www.ceturb.gov.br/site/menu_uma_viagem_no_tempo.asp>
*Gazeta On-Line. Exército está em Vila Velha para impedir incêndios de ônibus
Acesso em 30/11/2006. Disponível:
Gazeta Online: <https://gazetaonline.globo.com
>
Governo do Estado do E.S. "Projeto Circuito Transcol",
Acesso em 30/11/2006. Disponível em:
<
https://www.es.gov.br/site/noticias/show.aspx?noticiaId=99661117>
*Origens do bairro IBES. Jornal A Tribuna, Vitória-ES, 22 Ago 2003.

Rosimeire Leal da Motta
Vila Velha - ES


 

 
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