Amélia é que era mulher de verdade

Recebi em 13/03/2008

Será que realmente Amélia era a mulher de verdade? Ou apenas o que se esperava dela?

AMÉLIA É QUE ERA MULHER DE VERDADE
Marcial Salaverry

Vamos chamá-la de Amélia mesmo, para concordar com a música tão famosa.

Amélia desde que nasceu foi preparada para ser uma perfeita dona de casa, como era costume na época em que ela teve a má ideia de nascer mulher.

Seus pais não se preocuparam em dar-lhe estudo, e sua mãe, seguindo a tradição familiar, transformou-a em uma perfeita dona de casa.

Sabia cozinhar, lavar, passar, tricotar, bordar, e servir ao homem que a escolhesse ou que lhe escolhessem para casar.

Sua opinião para nada era pedida.

Para que?

Bastava-lhe obedecer as ordens que lhe eram dadas, e cumprir di-reitinho suas obrigações familiares.


Casou com o filho de um amigo de seu pai, visando interesses co-merciais das duas famílias.

Assim, às obrigações anteriores, também deveria atender às neces-sidades do marido, que sempre se revelava muito exigente.

Queria roupa bem lavada e passada, camisas engomadas, comida bem feita e a seu gosto.

E também, eventualmente, rapidez na cama.

E Amélia que se atrevesse a contrariar seus desejos, que eram or-dens.

E também que fechasse os olhos para suas saídas noturnas.

Os tradicionais “chopes” com os amigos...

Claro que Amélia, apesar do nome, tinha alguns pensamentos de rebeldia, acabou se cansando de sua situação.

E como Abelardo tinha seus chopes amigos, ela começou a ter suas idas às reuniões do Grupo de Beneméritas, os tradicionais chás com as amigas.

Nesses chás, começou a conversar com algumas senhoras de ideias mais avançadas e que, como ela, começavam a se cansar de sua subserviência descabida.

Idealizaram uma instituição voltada para a defesa da liberdade da mulher, e iniciaram campanhas de protesto contra a situação, sem-pre procurando conscientizar a opinião publica, sobretudo a femini-na, contra a opressão do “macho dominante” e sempre dando ênfase especial à igualdade de direitos e deveres, coisa que inexistia na época.

Claro que seus maridos se opuseram.

Quase todos.

E aqueles que quiseram fazer pressão para que elas desistissem des-se ambicioso projeto, acabaram ficando sem as esposas, que prefe-riram separar-se para servir de exemplo, mostrando que as mu-lheres tinham, como tem até hoje, condições para se manter por sua própria conta, quando não encontrar compreensão e entendimento dentro de seus lares.

Amélia particularmente teve que lutar muito por sua sobrevi-vência, pois Abelardo tratou de dificultar ao máximo seu caminho.

Anos depois, ela que havia conseguido se transformar numa em-presária de sucesso por seu conhecimento de moda masculina teve que socorrer o ex-marido, que acabou perdendo sua fortuna em noitadas de jogo e mulheres.

Coisas da vida, que paga o devido prêmio a quem sabe vive-la, e cobra o tributo a quem não sabe.

Tudo é questão de fazer a coisa certa.

Marcial Salaverry



Fundo Musical: Música Religiosa